
Deputado diz que os hospitais estão superlotados e as pessoas estão morrendo à espera de leitos de UTI
Por Habacuque Villacorte – Da Equipe Cinform OnLine
Desta vez a equipe do CINFORM ON LINE, conversou com o deputado estadual Samuel Carvalho (CIDADANIA). Ele é o autor da lei estadual que tornou a atividade religiosa um serviço essencial durante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Na oportunidade ele condena o fechamento dos templos religiosos e igrejas; critica a postura do governador Belivaldo Chagas (PSD) no enfrentamento à pandemia; e defende a importância de se instalar na Assembleia Legislativa a CPI da Covid. Ele também externa sua preocupação com o crescimento da fome e do desemprego em Sergipe. Confira a seguir, e na íntegra, esta entrevista exclusiva:
CINFORM ON LINE: Iniciando a entrevista, vamos à pergunta que não quer calar: há uma discussão na sociedade se a atividade religiosa é um serviço essencial ou não. Em Sergipe existe uma lei, neste sentido. Qual a sua opinião?
SAMUEL CARVALHO: A Lei que existe é de nossa autoria. Por isso, me sinto a vontade para falar sobre esse assunto. Fiz esse PL justamente para garantir a liberdade do cidadão de cultuar, de ir a igreja rezar, orar e ouvir a palavra de Deus. Além disso, as pessoas vão à igreja à procura de fortalecimento espiritual e até mesmo psicológico. Quando o cidadão não tem dinheiro para pagar um psicólogo, ele procura um Padre, um Pastor, enfim, é através desse trabalho que a igreja consegue atenuar a crise mental provocada pela pandemia da Covid-19.
No Salmos 122 a palavra de Deus fala: alegre-vós quando nos disseram, vamos à casa do Senhor. É uma alegria quando estamos na casa do Senhor. Na igreja tem um mistério diferente, cultuar dentro da igreja é muito mais especial. É na igreja que feridas são saradas, que saúde mental e ansiedade são tratadas e que há renovação do corpo e mente, por isso a igreja precisa permanecer aberta. As pessoas estão adoecendo
espiritualmente. Precisamos entender que neste tempo difícil, cultos religiosos trazem paz, segurança e alimento para a alma.
CINFORM ON LINE: A justificativa das autoridades constituídas, nos decretos com medidas restritivas, é que se faz necessário impedir as aglomerações nos templos e igrejas. O senhor concorda?
SAMUEL CARVALHO: Concordo com todas as limitações e restrições de biossegurança que o tempo requer, e as igrejas também concordam. Quando o Governo do Estado determinou que a igreja funcionaria com 70%, 50% e 30% de ocupação, os líderes religiosos concordaram. O que não concordamos é com a limitação total do direito ao culto. A restrição de quantidade de pessoas tem que ser feita. Isso nós não questionamos. As autoridades podem e devem, quando for necessário, limitar a quantidade de pessoas. Eu concordo que não pode ter aglomerações, mas quando se limita a capacidade, você evita aglomerações desnecessárias porque, como eu disse, as igrejas têm respeitado as recomendações para o uso do álcool, máscara e distanciamento físico.
CINFORM ON LINE: Falando nas medidas restritivas, hoje no País inteiro e em Sergipe não poderia ser diferente, temos uma “onda de quebradeira” entre diversos segmentos da economia. As ajudas que o governador e os prefeitos têm dado, garantem a sobrevivência dessas empresas ou chegaram tarde demais? São suficientes?
SAMUEL CARVALHO: Inicialmente eu não concordo com esse fecha tudo, principalmente da maneira como está. Recentemente um importante restaurante anunciou o fim das suas atividades aqui em Sergipe. Ou seja, além deste vários empresários, que vão do pequeno ao maior, estão sendo obrigados a fecharem as portas. Além de chegar tarde demais, essa ajuda do Governo não é suficiente para suprir as necessidades dessas pessoas e reduzir a crise no setor empresarial. Infelizmente.
CINFORM ON LINE: Como estabilizar a mente de um pai ou mãe de família que agora está desempregado? Como confortar essas pessoas? O que o poder público poderia fazer para ajudar?
SAMUEL CARVALHO: É extremamente preocupante o que vem acontecendo no Estado. Por isso que a Igreja tem um papel importante nesse momento difícil e não pode ficar fechada. São essas pessoas que mais procuram amparo nas igrejas porque não é fácil sustentar uma família estando desempregado. O apego espiritual em Deus é fundamental para superar essa crise.
O governador talvez não entenda porque ele tem seu gordo salário todos os dias na conta e sem atraso. Ele vive na mordomia dos altos salários que recebe como governador e aposentado. Não tem noção do quanto o sergipano pobre vem passando. Porque se tivesse, não fecharia o comércio de maneira atabalhoada como fez.
O poder público tem a obrigação de resolver essa crise levando aos cidadãos auxílios financeiros mais justos e alcançando todos os grupos de pessoas.
CINFORM ON LINE: Nas sessões da Alese um tema que passou a ficar mais recorrente tem sido o crescimento da fome em Sergipe. A situação está sob controle ou a realidade é preocupante mesmo?
SAMUEL CARVALHO: A situação é ainda mais preocupante. Até porque, estamos diante de uma das maiores crises sanitárias da humanidade e maior desde a gripe espanhola. Como a gente discutiu, as pessoas estão cada vez mais perdendo os seus respectivos empregos, fechando os comércios e se endividando cada vez mais. Isso
acaba corroborando para o crescimento no número de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza, ocasionando a fome generalizada.
CINFORM ON LINE: O senhor foi líder da oposição em 2020 na Alese, um ano marcado pela pandemia. Como foi a experiência?
SAMUEL CARVALHO: Fui líder da oposição e sempre atuei de forma responsável. Não sou do tipo adversário que fica na torcida pelo quanto pior, melhor. Quem me conhece sabe que durante a minha liderança eu busquei sempre o diálogo e cobrei do Governo pautas essenciais para a população. Foi um ano difícil porque tivemos que lidar com a pandemia. E mesmo diante disso alguns projetos maléficos para população foram aprovados por intermédio do governador, a exemplo do aumento das taxas do DETRAN. Infelizmente, Belivaldo tem a maioria na ALESE e com isso faz da Casa Legislativa um puxadinho de seu gabinete, aprovando projetos que prejudicam a população e ditando como cada aliado seu deverá votar. Lamentável. Uma prova disso é a CPI da Covid-19. Qual Deputado da base governista vai ter coragem de assinar?
CINFORM ON LINE: E qual a sua avaliação sobre seu resultado eleitoral em Nossa Senhora do Socorro? Esperava mais ou lhe surpreendeu? Qual a sua avaliação sobre a atual gestão do prefeito Padre Inaldo?
SAMUEL CARVALHO: Apesar de ter perdido as eleições o meu sentimento sempre foi o de gratidão aos 24.018 votos que obtive no último pleito. Lutei contra os poderosos que fazem da política não um projeto de povo e sim de um projeto de poder. Eles vivem a negociar cargos em troca de apoios. Além disso, tive que enfrentar outro problema sério na política. Quem não se lembra do escândalo envolvendo Inaldo numa suposta compra de votos? Pelo o que se tem conhecimento, eu creio que cedo ou tarde a justiça será feita e o atual prefeito será condenado, os indícios são muito fortes de captação ilícita de sufrágio e abuso do poder.
Eu só ouço reclamação de Socorro. As pessoas me procuram para que eu faça um papel de prefeito, mas infelizmente não tenho esse poder são ruas esburacadas, falta de saneamento básico e falta até médico. Recentemente um grupo de médicos enviou nota à secretaria informando a suspensão dos serviços por falta de salários e EPIs. Isso é uma vergonha. Então não há como avaliar positivamente a gestão do Padre Inaldo, na minha singela opinião até o momento é uma continuidade das gestões anteriores, infelizmente o mesmo grupo administra Socorro há quase 30 anos.
CINFORM ON LINE: Falando um pouco sobre 2022, o senhor pretende disputar a reeleição ou pode surgir com uma pré-candidatura a deputado federal? E o senador Alessandro Vieira será o candidato a governador do grupo?
SAMUEL CARVALHO: Mesmo não sendo um momento ideal para falar sobre eleições de 2022, eu sigo com meu pensamento de continuar como deputado estadual, a não ser que o meu grupo tenha alternativa. Com relação ao senador Alessandro, espero que ele aceite o desafio de ser candidato ao governo de Sergipe. Nas reuniões do Cidadania já defendi e continuo defendendo o nome dele. O Senador Alessandro tem mostrado no senado aquilo que pregou durante a campanha: honestidade e coragem para fazer diferente. Mas as candidaturas serão definidas nas convenções do próximo ano. Precisamos agora é unir forças e combater o Coronavírus.
CINFORM ON LINE: Voltando para a Assembleia Legislativa, o senhor tem defendido a instalação de uma CPI da pandemia no Estado. Por que?
SAMUEL CARVALHO: Primeiro para esclarecer o destino dos milhões que inicialmente seriam para comprar os respiradores. Se com o consórcio do nordeste ocorreu isso, imagina o que não tem escondido embaixo do tapete do governador? Já que ele não tem nada a temer, não precisa ficar preocupado com a CPI. Mas o fato é que precisamos saber como o Governo tem gerido os recursos da Pandemia. Para isso, a instalação da CPI é extremamente importante.
CINFORM ON LINE: Como o senhor avalia a atuação do governador no combate à COVID?
SAMUEL CARVALHO: Desastrosa! São medidas atrapalhadas. Não há uma sequência lógica de ações. Os hospitais estão superlotados e pessoas estão morrendo à espera de leitos de UTI. Belivaldo fechou os restaurantes aos fins de semana, fecharam os quiosques, bares e a situação só piorou. Quando o governador vai entender que a fiscalização rígida é caminho mais viável? Daqui a pouco não vamos ter nem saúde e nem economia.
CINFORM ON LINE: Por que as doses de vacinas chegam a Sergipe e os municípios não conseguem imunizar na mesma proporção? O que está faltando?
SAMUEL CARVALHO: Falta planejamento. Mas não é novidade acontecer isso em alguns municípios. Muitos prefeitos escolheram seus secretários não por competência e sim por indicações políticas. Por isso que em muitas cidades, incluindo Socorro, a saúde está um caos.
CINFORM ON LINE: Por que se fiscaliza tanta coisa em Sergipe, mas ninguém olha para o transporte coletivo?
SAMUEL CARVALHO: Na verdade, não há fiscalização em nada. Eu só vejo pobres sendo oprimidos por algumas ações desastrosas dos órgãos de fiscalização. A fiscalização deveria ocorrer de maneira isonômica e não seletiva. Recentemente, a gente viu na imprensa uma festa com dezenas de pessoas e show ao vivo na casa de uma secretária de um município aqui do estado. Nenhum órgão fiscalizador apareceu. Mas se fosse a casa de um pobre, todo mundo seria preso. Então, o povo tá cansado dessa seletividade, de uma fiscalização de faz de contas.
Se realmente houvesse fiscalização, não precisaria fechar o comércio. Bastava verificar se as normas de biossegurança estariam sendo cumpridas.
CINFORM ON LINE: Concluindo a entrevista, em 2020 o senhor fez um apelo público pelos servidores de Socorro e de Itaporanga. O que houve? A situação se resolveu?
SAMUEL CARVALHO: Infelizmente os servidores de Socorro e Itaporanga tiveram uma triste notícia sobre o cancelamento do plano de saúde por ausência das certidões negativas das gestões municipais. Pessoas que estavam na fila aguardando exames, tiveram que cancelar. Ao ter o plano restabelecido, eles tiveram que cumprir mais uma vez a carência para ter acesso aos benefícios. Tentamos de várias formas, fiz até uma Indicação, mas infelizmente nem o Ipesaúde e nem o Governo tiveram sensibilidade com essas pessoas.