Por Edson Ulisses*

Estou no mosqueiro, praia ao sul da capital sergipana, isolado para me prevenir do coronavírus. A minha condição atual me enquadra no grupo de risco, daí meu recolhimento que, fazendo um gracejo, digo que estou em prisão domiciliar, cuja decisão vem de um juiz que não conheço, sem direito à defesa, cujo advogado são os médicos, negado o direito ao devido processo legal, cuja pena é a morte. Estou tendo a oportunidade de olhar para as coisas, plantas, jardim, grama, mini-ixsórias floridas, flores vermelhas. Tudo isto me leva a refletir um pouco sobre as suas origens.

Vendo as borboletas fico a meditar sobre a sua formação até chegarem ao estágio de voarem sobre as flores, num bailado incessante, em suas cores diversas, formando um colorido especial que deixa os olhos inebriados com tanta beleza.

Volto-me a refletir sobre a origem dessas criaturas tão especiais que passam por nós e não lhes damos qualquer valor. E somente nessas oportunidades de reflexão podemos contemplá-las nessa dança, com tanta elegância e leveza, ao sobrevoarem as flores colhendo o néctar necessário para sobreviverem.

Destaque-se, sem guardarem provisões para o próximo tempo, porque tem vida efêmera e nenhuma delas procura reservar para si mais que o necessário para a sobrevivência e por isso o alimento que procuram é suficiente para todas. Mas de onde vêm esses seres cujas vidas ou existência encantam tanto por onde voam, sem nada exigirem pelo espetáculo ímpar que apresentam?

Aparecem nas primeiras chuvas; os ovos que são colocados sobre as folhas eclodem em larvas que logo são transformadas em lagartas, depois em crisálidas e, por fim, em borboletas. As lagartas, quando em grandes quantidades, podem destruir plantações inteiras, forçando o uso de pesticidas para sua destruição. É na transformação da lagarta em borboleta que se constata a mais perfeita metamorfose. Vejamos o que nos revela a pesquisa acerca do universo desses seres encantadores:

Metamorfose das Borboletas

“As borboletas são animais que, juntamente às mariposas, formam a Ordem Lepidoptera. São seres que sofrem metamorfose, ou seja, sofrem mudanças em seu corpo até se tornarem adultos. Como os indivíduos jovens e adultos são completamente diferentes, dizemos que a metamorfose das borboletas é completa”.

“Numa busca no campo da simbologia, a borboleta simboliza para alguns sorte felicidade, mudanças, alma, espiritualidade”.

O significado espiritual das borboletas – “A borboleta é considerada o símbolo da transformação, da felicidade, da beleza, da inconstância, da efemeridade da natureza e da renovação, mas há inúmeros significados atribuídos à simbologia das borboletas. Faz referência à metamorfose, portanto, da transformação que os seres humanos passam ao longo da vida, não só física (crescimento), como sociais (mudança de trabalho, casamento, nascimento de um filho, entre outros)”.

A borboleta e o espiritismo – “Uma vez que a borboleta é referência de renovação, para os espíritas, ela simboliza a reencarnação. A reencarnação é o regresso da alma para outro corpo, uma nova vida”.

Outras simbologias da borboleta

  • A borboleta é o símbolo do renascimento para a psicanálise moderna, que é representada com asas de borboleta”
  • No cristianismo a borboleta representa e simboliza a ressurreição
  • Na mitologia grega, a personificação da alma é representada por uma mulher com asas de borboleta e segundo as crenças gregas populares, quando alguém morria, o espírito saía do corpo com forma de borboleta;
  • Por outro lado, no mundo sino-vietnamita a borboleta exprime a longevidade ou está associada ao crisântemo, o qual simboliza o outono, ou seja, a renovação, uma vez que no outono ocorre a queda das folhas
  • Para os astecas e os maias, a borboleta simbolizava o deus do fogo Xiutecutli, o qual levava como emblema um peitoral chamado “borboleta de obsidiana” que simbolizava a alma ou o sopro vital que escapa da boca de quem está morrendo;
  • Os Balubas e os Luluas do Kasai, do Zaire central, também associam a borboleta com a alma. Para eles, o homem segue o ciclo da borboleta desde sua nascença até sua morte;
  • Na mitologia irlandesa, a borboleta simboliza a alma liberta de seu invólucro carnal, da mesma maneira que na simbologia cristã;
  • Feng Shui, o uso de borboletas é considerado o mesmo que o uso simbólico de pássaros. Ambos, pássaros e borboletas, estão a voar livremente, e isto comunica com o desejo humano de uma vida livre e feliz perto do Paraíso. Uma vez que o Amor é o sentimento mais significativo que faz as pessoas “voar”, a borboleta é o símbolo mais comum usado como cura para o Amor e Romance no Feng Shui;
  • Foi o bater das asas de uma borboleta que inspirou o cientista Edward Lorenz acerca da origem da teoria do caos. Em 1963, a teoria apresentada: “o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

No momento, estamos a enfrentar uma fase de pandemia gerada pelo novo coronavírus, o COVID-19, cuja origem tem gerado polêmica no mundo da ciência. Sabe-se que se trata de um vírus que contamina o ser humano. Não o vemos a olho nu, portanto um inimigo invisível, que fez as nações mais poderosas ajoelharem-se.

O homem se sentiu rendido, sem armas para combatê-lo, recorrendo ao isolamento. Muitos falecem, inclusive os profissionais da medicina, verdadeiros heróis nessa guerra insana, causando dor e sofrimento. Fez o homem voltar-se para si mesmo, introspectivo, buscando a solidariedade, valor do qual se distanciou, perdeu referência, deixou de ter importância no seu dia-a-dia.

Diante disso, resta indagar: teria o COVID-19 servido como indicativo ao ser humano que existem elementos gerados pela natureza, desconhecidos e capazes de desafiar o conhecimento e a riqueza material do planeta e mudar o rumo da humanidade?

Como as borboletas têm a capacidade inata da metamorfose, creio que o ser humano atravessará este mar vermelho da pandemia do COVID-19, com nova visão de mundo, com o coração cheio de amor, de compreensão, capaz de acolher e solidarizar-se com o outro. Teremos a humanidade renovada tal qual Fênix, renascida das cinzas deixadas pelo coronavírus, fazendo renascer um homem melhor, capaz de destruir a semente do mal e fazer rebrotar eternamente o amor no seu coração.

*É Desembargador de Justiça do TJSE e Ex-Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da CF/OAB

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