“Palmas pra ala dos barões famintos / o bloco dos napoleões retintos / e os pigmeus do boulevard / meus Deus vem olhar…”.

Foi com esses quatro simples versos que o Chico Buarque descreveu o que denominou a “ofegante epidemia que se chama carnaval”. Não importa se o país está entregue às mesmas moscas de sempre, que pousam no bolo da economia nacional para colocar seus ovos de germes nojentos e sugadores do Erário, e não adianta mudar o comandante-em-chefe, porque o colegiado do mal supera essas meras siglas partidárias em favor da grande quadrilha, cujos tentáculos perpassam todos os fóruns dos poderes constituídos desta República.

Alguém aí está preocupado com a reforma da previdência? Como ficou mesmo a reforma trabalhista? Êi, você aí, vai uma aposentadoria aí, aos 95 anos?! O que tem essa população que a tudo ignora, desde que seja coisa séria e interfira diretamente na sua vida? A violência grassa pelas cidades e pelo campo; a saúde da população mais pobre está abandonada; a educação do país está na lista das piores do mundo; as instituições a cada dia mais enfraquecidas; a moral e os costumes esfacelados… O que é que esse povo tanto festeja, a quem tanto celebra?

Adequando-se à ideia poética de Chico, permanece dormindo a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que é continuamente roubada em tenebrosas transações. Enquanto essa nação não para e reflete, “a ofegante epidemia” envolve os milhões de reis e rainhas de crepom, generais de seda e almirantes de veludo; piratas de papel; bailes de mascarados capengas; arlequins e colombinas de chita; cavaleiros seminus em cavalos-de-pau; damas e cavalheiros de azeviche; excesso de álcool; drogas, muitas drogas… “Ai! Que vida boa… O estandarte do sanatório geral”!

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