
O confinamento prolongado de crianças e adolescentes e o isolamento social a que vêm sendo submetidos desde o início da Pandemia, ou seja, há mais de um ano, inclusive com privação de convívio com pessoas queridas, como os avós, têm causado inúmeros transtornos mentais nesse grupo etário. A Sociedade Brasileira de Pediatra afirma, em nota técnica de 29/01/21, um aumento do número de casos de depressão, transtorno de ansiedade e stress infantil, além do aumento considerável de abandono escolar por jovens, passando a recomendar, já naquele momento, a reabertura urgente das escolas e o retorno às aulas presenciais, seguindo protocolos sanitários.
Segundo a médica especialista em Neurologia Infantil, Dra Fabíola Ramos, o aumento desses transtornos em crianças e adolescentes é evidente. “Em meu consultório de Neuropediatra, onde permaneci atendendo, observei quadros de descompensação de quadros já diagnosticados de Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e também do Transtorno do Espectro Autista, pois esses pacientes, que precisam de terapias e espaços livres, foram “engaiolados” da noite para o dia, com pais obrigados a se tornarem terapeutas, professores e darem conta do seu Home Office ao mesmo tempo, o que é humanamente impossível”, comentou.
Dra Fabíola Ramos
Dra Fabíola alerta que houve também um aumento claro do surgimento de novos casos de Espectro Autista em crianças entre um e dois anos, pelo não convívio social e pelo excesso de uso de eletrônicos, por falta de opção de outras atividades. “A síndrome da “gaiola” é ainda um problema que teremos que enfrentar com jovens que terão dificuldades de voltar ao convívio social. A escola é muito mais que um ambiente de aprendizado curricular, e acima de tudo um espaço de troca de experiências, de emoções vividas, alegrias, tristezas, dificuldades, superações, que permite que nossas crianças cresçam e evoluam como seres humanos. Através da tela, somente, essas experiências não são trocadas”, disse.
Os professores nem sequer vêem os alunos, dão aula para ” círculos coloridos”. Conversas pelo Chat não substituem a troca de olhar. Emoções têm que ser vividas presencialmente.
Através de uma avaliação do Comitê Técnico-Científico e de Atividades Especiais (Ctcae), que analisa os números da Covid-19 em Sergipe, o Governo do Estado decidiu pelo retorno presencial para todas as séries a partir de 17 de agosto de 2021, na rede pública estadual de ensino. Já na rede privada, fica autorizado o retorno para todas as séries a partir de 21 de julho; o mesmo vale para o retorno das aulas presenciais em todos os períodos letivos do Ensino Superior. Dra Fabíola entende a decisão como uma grande vitória.
“O movimento Volta-SE, do qual faço parte, teve uma vitória, com a volta às aulas definida para o segundo semestre desse ano letivo. Continuaremos na luta com o movimento para que não voltem a ser fechadas, para que nossas crianças voltem e continuem a sorrir. Enquanto as aulas não recomeçam, os pais têm que ter compreensão com esse momento delicado. A humanidade toda está sendo testada nos seus limites emocionais. Então é difícil mesmo, porque eles, os pais, também estão afetados mentalmente de alguma forma. Porém precisam não exigir apenas resultados acadêmicos, boas notas, e sim respeitar as dificuldades de seu filho”, conclui.