Dizem que as pessoas mais sábias que você encontrará na vida podem ser classificadas em duas categorias: as que leram muitos livros e as que nem sabem ler. Como meus textos geralmente têm referências de autores, hoje citarei uma das pessoas mais sábias que conheci até aqui. Todo mundo a chamava de Vovó Alice lá em Propriá, cidade ribeirinha onde fui criada. Vovó Alice era muito cogitada em sua função de benzedeira, lavava roupas na beira do Velho Chico e tinha uma das energias mais bonitas que já presenciei. Nunca a vi triste, nem com reclamação por coisa alguma. Ao contrário, seu riso era contagiante, espontâneo, verdadeiro. Quando alguém adoecia lá em casa, antes de ir ao médico, era com Vovó que a gente se consultava. Preta, pobre, idosa, com muitas enfermidades, lá vinha ela com uma trouxa de pano na cabeça e suas arrudas. Se é um cheiro que me remete a ela, é o de arruda. 

Tantas vezes queremos por escolha própria adoecer perto de gente tóxica e não percebemos as que curam. Aquela presença de vó amorosa curava. E nesta semana a lembrança por ela foi forte, pois diante desta pandemia, como Vovó se comportaria? Eu não sei da onde vinha aquela fé, mas eu tenho plena convicção que ela não lavava apenas roupas. Aquela alma limpava outras e talvez até absorvesse pra ela muita coisa. A sua simples presença acalmava os ânimos, os medos e as preocupações. A sua ancestralidade, calcada em navios negreiros, tinha generosidade e afeto pra dar e vender mesmo diante de tantas privações que a vida lhe causava. Sem dúvidas Vovó Alice dispunha de uma energia que eu gostaria de ter.

Enquanto ela rezava passando arruda de cima abaixo em mim, chegava a falar do meu futuro. E ria, ria alto como quem já soubesse o que me era destinado. Muitos corações endurecidos e que desejavam comprovações científicas, mesmo diante de profetas, não a ouviram. Mas ela não deixava de fazer o seu ofício e também de cantar com alegria. O indizível e invisível nos acompanham. Ninguém duvida que coronavírus existe e nem que precisa de ar para viver né? Vivemos um tempo de retorno ao nosso interior, à nossa essência, para nos conhecermos mais e assim, elevarmos a consciência, a intuição e passarmos a cuidar do nosso próprio lar, o nosso corpo físico e espiritual.

Quem acha que tá solto no mundo, está enganado. Observando Vovó Alice, que nunca se desesperava e socorria tanta gente sem cobrar um tostão, via nela a manifestação da plena sabedoria. Não havia ido à escola e nem tinha acesso ao básico, mas detinha respostas diretas e objetivas para assuntos de alta complexidade. E tudo estava acontecendo conforme o nosso próprio merecimento. 

Ela faleceu de velhice e dormindo, já bastante idosa. Quando a falta de paz quer me visitar lembro com carinho de Vovó Alice para me inspirar. Das rezas, das piadas bobas, da capacidade de tudo enfrentar sem desanimar. Sei que só posso entrar em sintonia com o que eu autorizar. “Nesta vida vocês passarão por aflições, mas tende bom ânimo”, era o convite do Mestre Jesus.

Quantas pessoas estão desempenhando funções extremamente braçais e que, revestidos em papeis economicamente ‘inferiores’, sem títulos ou rótulos de renome, são espíritos a serviço da cura, da evolução, do esclarecimento? Não nos enganemos. Às vezes chegam respostas, luz, cura e muito amor da onde nem sequer percebemos. Fomos conduzidos a acreditar naqueles que estão teoricamente em funções religiosas e podem estar tão distraídos quanto outro ser qualquer pelas ilusões que nos cercam.

Aquela anciã maravilhosa que conheci na infância me ensinou muitos valores. E talvez o mais precioso deles seja a fé. Em quem? Em Deus primeiramente, de saber que há uma autorização para tudo que acontece. Em mim, pelas responsabilidades que me cercam e eu mesma atraí com o que preciso aprender, e em quem me rodeia, cujas trocas fomentam a expansão do servir cada dia mais em prol do coletivo. Minha gratidão eterna à Vovó Alice. Que a nossa ancestralidade nos abençoe e proteja.

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