
Por Ednalva Freire Caetano
Incursões pela MPB
Esse ano de 2021 quero paz no meu coração…coisa tão distante neste 2020 que termina e que nasceu cheio de esperanças e promessas como sói acontecer a cada novo ano por esse mundo afora…vou melhorar a minha vida, vou dar mais importância às coisas que realmente fazem a diferença…priorizar as relações familiares aprofundando os laços que nos identificam e dando menos atenção às diferenças que nos afastam. Vou ser mais tolerante e analisar com cuidado as coisas que são ditas porque afinal, a linguagem, como afirma Saint-Exupéry, é uma fonte de mal entendidos e palavra quando acesa não queima em vão.
O ano findo me ensinou que o compasso da espera pode ser angustiante, que o ritmo extremamente lento das mudanças que eu tanto desejei pode se revelar como uma exigência para que eu, agitada que sou, compreendesse que nada sou… apenas estrada sou e portanto é preciso conhecer as manhas e as manhãs com as sutis diferenças que cabe a cada uma dessas situações. Esse ano eu entendi finalmente que é preciso aprender a ser só, compreendi que é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir e é preciso chuva para florir…todas as demais coisas se tornaram tão supérfluas…aprendi ainda que a saudade é bichinha danada, com gosto de jiló verdinho plantado na lua nova do penar, e quando insistentemente instalada não quer se mudar… Senti na pele que solidão é lava que cobre tudo, é amargura na boca que sorri com dentes de chumbo obrigando-nos a dançar a dança da solidão com o coração resignado e mudo no compasso da desilusão. Esse ano me ensinou que agora eu era o herói e meu cavalo, única companhia disponível, só falava inglês como se não bastasse a minha dificuldade de falar e entender a língua dos animais, esses seres privilegiados nesse ano de 2020, já que ficaram imunes ao ataque sinistro de vírus tão letal, e que podem ser bons companheiros, ninguém pode negar. Mais um ano se passou e só vejo pegadas, o vento faz lembrar você, procuro encontrar, mas não sei onde está, as folhas caem, o outono se vai…Tanta coisa que eu tinha a dizer e fazer em 2020 mas eu sumi na poeira dessa névoa que encobriu nossos desejos e vontades.
Mas, um ano novo está chegando e é hora de formular novos desejos. Esse ano quero paz no meu coração, quero a mão de um amigo estendida como promessa de poder cantar mais forte, quero abraçar quem eu amo, voltar a ter os meus planos que ficaram engavetados, quero abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua, na chuva, na fazenda ou por entre bancários, automóveis, ruas e avenidas, milhões de buzinas tocando em harmonia sem cessar e nós dois a girar… que maravilha… a girar…Esse ano quero sair correndo e pegar meu lugar no futuro, indo em busca de um sono tranquilo. Quero acreditar vivamente que apesar de tudo existe uma fonte de água pura e quem beber dessa água não terá mais amargura. Por isso deixo aqui meu endereço, se você me encontrar eu reconheço. Reconheço você como meu semelhante, reconheço você como alguém que como eu anseia por um ano melhor. Reconheço você como alguém de quem preciso pra sobreviver. Procurei em vão um lugar onde depositar esse meu desejo: um nicho, um altar, uma igreja ou quem sabe uma catedral. Me disseram porém, que eu viesse aqui, pra pedir de romaria e prece, paz nos desaventos. Como eu não sei rezar só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar…