Eu sou das antigas. Era um jovem que trabalhava e estudava quando os militares deram um chega-pra-lá no projeto comunista em 64, e acompanhei a ditadura que se impôs nos anos seguintes, quando os ânimos se acirraram de lado a lado. Não considero um lado nem o outro mocinho e nem bandido. Foi tudo contexto histórico, quando dois lados lutavam por suas convicções e ambos utilizaram a força com os meios de que dispunham.
Agora, depois de mais de uma década e meia em que o país esteve nas mãos de um partido político, e em que todas as instituições da república foram aparelhadas para servir aos interesses de uma estrutura de permanência no poder, uma eleição livre se impôs e a maioria da população deu um basta no projeto político de plantão, que tantos dissabores causou ao Estado, essencialmente na economia, na segurança, na saúde, na educação e nos costumes, porque alguns segmentos políticos irresponsáveis tudo ofertam sem ter de onde produzir, de onde tirar. Para eles, o erário que se dane, importante é o partido.
No Brasil de hoje, para alguns ideólogos e seus seguidores, qualquer pessoa que pense de forma diferente da deles é um bolsonarista. Ser bolsonarista é não ser lulista, escolha que, para eles, é fruto de burrice ou de cegueira intelectual ou, ainda, fruto de lavagem cerebral. Impressionante!
Na verdade, está no poder um homem que jamais ocupou um cargo executivo, cercando-se de pessoas novas, sem vícios, nos ministérios. Dentro dos ministérios, as caixinhas dos organogramas precisam ser refeitas, libertadas de indiscutíveis amarras ideológicas, antes que se possa dar novas diretrizes.
A população queria mudanças e elas estão chegando. Não se fazem mudanças sem conflitos, “porque o conflito é o motor da história”. Os contratos precisam ser reanalisados, toda a sociedade sabe como eram elaborados, sempre com desvios de recursos para políticos inescrupulosos, objetivando bancar campanhas de grandes partidos desligados do interesse público.
A estrutura da burocracia pública é um mastodonte, quase inacessível, e que não pode e nem deve ser alterada em tão curto espaço de tempo. Os que cobram de forma cega pelas transformações prometidas, o fazem simplesmente por viés político, não estando nem um pouco interessados nos grandes desafios que o Brasil precisa enfrentar para superar quase duas décadas de ensaios e erros.
A população militante está perdendo tempo batendo tanto no presidente eleito, tempo e energia que bem poderiam ser utilizados na elaboração de projetos de avanços sociais, econômicos, políticos, até porque, em breve, haverá novas eleições e o povo, que dizem ser sábio, terá chance de uma nova escolha. A alternância de poder é a essência da democracia.