
Foi após uma conversa com o amigo, hoje sócio, que Priscilla Santana tomou a decisão mais importante da vida: empreender. O sonho era montar uma farmácia de manipulação, mas pouca gente levou a história a sério, faltou incentivo, mas Priscilla não desistiu.
Negra, de família simples e recém-formada em farmácia, a jovem pediu demissão do emprego, vendeu o próprio carro e convenceu o amigo, Aldino Porto, a fazer o mesmo. A Fórmula Exata começou sair do papel.
“Foi na base da persistência, noites em claro e muita dor de cabeça, mas desistir, nunca foi uma hipótese”, conta Priscilla, que além de farmacêutica, é formada em enfermagem, mas nunca chegou a exercer a profissão. “A Farmácia sempre foi minha grande paixão”, pontua.
O papo entre amigos virou coisa séria, ganhou novos elos. A farmácia magisyral, Fórmula Exata, tem agora quatro sócios: Priscilla Santana, Aldino Porto, Danielle Calixto e Alessandro Souza. Com seis anos de atuação em Aracaju, são duas unidades em funcionamento, que empregam quase 40 colaboradores.
“Uma nova expansão está nos planos, mas o foco agora é fortalecer ainda mais a marca e se firmar no mercado sergipano”, explica Aldino Porto, diretor técnico da farmácia.
Apesar da trajetória de sucesso, Priscilla ainda esbarra em alguns obstáculos pelo caminho. Segundo ela, a cor da pele e o fato de ser mulher, “infelizmente ainda fecham portas”.
Como já é bastante conhecida, a empresária explica que atualmente as “situações constrangedoras são menos frequentes. Já me incomodou, hoje sei me posicionar e lidar com as situações”, mas no início da carreira, precisava se reafirmar como empresária e uma das donas da farmácia, isso porque “algumas pessoas ainda não se acostumaram em ver uma mulher negra em posição de liderança”, revela.
O estranhamento relatado por Priscilla se contrapõe aos dados revelados pelo Sebrae. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 51% dos empreendedores brasileiros são negros, no entanto, eles correspondem a apenas 1% do grupo de empresas que lucram de 60 mil a R$ 360 mil, ou seja, a população negra é a parcela que mais abre negócios no país, porém é a que menos fatura.
Em contrapartida, segundo o IBGE, os negros representam 54% da população brasileira e movimentam R$ 1,7 trilhão por ano. Para Priscilla, que trabalhou em supermercado para pagar os estudos e hoje é dona do próprio negócio, “negros e negras precisam se apropriar desses dados e se empoderar”, afinal é só desta forma que “poderemos reverter essa dívida histórica deixada pela escravidão e dar um basta no preconceito”, finaliza.