
“A enfermagem na minha vida significa algo muito grandioso, principalmente no momento que estamos vivendo. É se doar ao outro por completo, de forma física e emocional. É cuidar no sentido mais amplo dessa palavra. É acolher, participar, incluir, respeitar, se colocar no lugar do outro, amar”. As palavras são da enfermeira Meire Jane Souza de Oliveira Feitoza, que tem 18 anos de formação, e transmitem, fielmente, o significado do que é ser enfermeira, algo que somente os profissionais formados, e que atuam na área, podem falar.
“Ser enfermeiro nos transmite um sentimento de pertencer e de fazer a diferença, de forma direta ou indireta, na vida das pessoas. E para mim é, acima de tudo, a realização de um sonho”, disse Meire Jane, ao afirmar que desde criança sentia a necessidade de ajudar as pessoas de alguma forma, a partir daí começou a pesquisar cursos na área da saúde. “Um mundo novo se abriu, completamente diferente do que eu imaginava que seria e também do que a sociedade nos leva a acreditar. E essa descoberta transformou-se em uma paixão que perdura até hoje, apesar das dificuldades, da desvalorização, do pouco reconhecimento”, revelou.
No dia 12 de maio é comemorado o Dia Internacional do Enfermeiro, data para lembrar dos profissionais que estão na linha de frente em hospitais, clínicas e postos de saúde, mas também estão presentes nas empresas e até no atendimento domiciliar. São os heróis e heroínas que convivem, diariamente, com perdas, trabalhando lado a lado com suas angústias e superações, mas também com o preconceito e até mesmo a desvalorização profissional. São grandes protagonistas na qualidade e segurança das atividades de saúde.
Coordenadora de um dos mais importantes setores do Huse, o Centro de Oncologia, que acolhe sergipanos e sergipanas em uma das horas mais difíceis das suas vidas, ser enfermeira neste local é um desafio gigantesco. E Meire Jane lida com maestria, tratando o seu local de trabalho como se fosse a sua própria casa, com todos os cuidados possíveis. “Nós passamos por momentos tristes, como as perdas, principalmente no atual momento da pandemia da Covid- 19. Realmente está sendo o momento mais difícil e desolador que a enfermagem e todos os profissionais de saúde estão vivendo”, disse.
Por outro lado, ela diz que tem muito o que comemorar também. “Como por exemplo presenciar a recuperação da saúde, da vida, e saber que contribuímos ativamente para essa vitória nos traz uma felicidade ímpar. Não poderia deixar de citar que me sinto muito feliz por ter o reconhecimento e o respeito dos meus colegas enfermeiros que demonstram e sentem muito orgulho em me ver na coordenação do Centro de Oncologia do maior Hospital de Estado”, finalizou.
A rotina de uma enfermeira pode ser igual a qualquer outra mulher, mãe, esposa. Acordar muito cedo, preparar o café da manhã do seu filho, a lancheira. Dar o café da manhã do filho, tomar banho e dar banho nele. Arrumá-lo para ir à escola e depois se arrumar para o trabalho. Às 06h40 já está chegando no hospital para visitar três unidades que coordena. Pega o filho já no final da tarde, volta para casa, janta com o marido, arruma a casa, dorme e se prepara para o dia seguinte.
De fato, pode ser a rotina de muita gente, não fosse, por exemplo, entrar em uma sala de parto e saber que não ouviria mais o choro dos bebes gêmeos, saber que estavam mortos com 39 semanas de gestação. Fatos como esse, muitas vezes corriqueiros na profissão da enfermagem, provocam um misto de emoções que fazem com que estes profissionais avaliarem a possibilidade de mudanças. “Já senti vontade de mudar de profissão. Tensão, cansaço, remuneração, reconhecimento, desgaste. Tudo isso desestimula, mas não me vejo fazendo outra coisa”, disse a enfermeira Paula Dantas Sousa Franco, que atua há 13 anos na área.
Para ela, que trabalha na UTI hospital Primavera, ser enfermeira é a vocação em servir. “É se dedicar promoção e recuperação da vida do próximo. Amor à vida. Cuidado de gente, gostar de calor humano e de desafio. Saber que fiz a diferença entre a vida e a morte de alguém e que a pessoa está vida até hoje”, assim ela, que dedica sua vida a cuidar do próximo, define essa profissão desafiadora. E nas horas vagas, procura assistir filmes, ouvir música e se dedicar ao filho, Theo, de três anos.
Busca pela valorização
O presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Sergipe (Coren/SE), Conrado Marques Souza Neto, acredita que o Dia Internacional do Enfermeiro é uma data para comemorar, mesmo com todas as dificuldades. “As dificuldades regionais existem. Entretanto, as maiores dificuldades da enfermagem são relacionadas à jornada exaustiva de trabalho, falta de condições de repouso digno, e a inexistência de um piso salarial para os profissionais de enfermagem que levam os mesmos a situações de exaustão e acúmulos de vínculos que com certeza impactam diretamente no exercício profissional”, pontuou.
“Os Enfermeiros advogam pela resposta das políticas locais, estaduais e nacionais de saúde. O Enfermeiro tem responsabilidade única na assistência em saúde. Em meio à pandemia, mesmo em situação caótica, fomos nós que lideramos todo o gerenciamento de equipamentos e das equipes de trabalho, sendo assim, grandes responsáveis pelas taxas de cura frente a pandemia. Tratamos, testamos e vacinamos a população. Incansáveis desde a coordenação das ações a assistência direta. Nosso trabalho é digno de comemoração”, disse Conrado Marques.