* Roberto Wagner Xavier de Souza

Quem nunca se arriscou a fazer uma combinação de palavras que pudesse propiciar uma sonoridade e, ao mesmo tempo, conduzisse a algum entendimento ou conexão de sentidos? Como simples símbolos de nossa linguagem podem conotar uma compreensão que nos faça viajar pelo universo da nossa mente e planar nos céus multifacetados de nosso espírito? O mais curioso é que essa imersão se dá sem que nos desliguemos da realidade posta e, ainda assim, possamos reverberar nossos anseios e chegarmos a entendimentos profundos.

A literatura, a arte da palavra, nos revelou quão rica pode ser essa combinação de palavras, que por muitas vezes não carrega uma sonoridade fonética, mas estabelece vínculos interiores. Ela proporciona que nossos sentidos se agucem, desde o suspirar, até os sorrisos largos, às expressões corporais, ao acelerar da pulsação que estremece o tato e ao verter dos olhos perante a inconteste emoção. A evidência da força das palavras é latente. A imagem “pode falar mais do que mil palavras”, uma palavra representar milhões de imagens.

Envoltos pelo chavão de que a “vida imita a arte” e vice-versa; na cadência do compasso da vida é perceptível que o cotidiano clama por rimas. Há uma busca pela consonância, algo que não destoe, onde haja uma concatenação para além dos sentidos, mas que se possa converter a arte em realidade perene. Os verbos, núcleos de nossas orações, consagram os encadeamentos na mesma proporção que marcam nossa memória e reavivam nossas lembranças.

O poema, o excerto e a prosa são a representação do que se experimentou, sonha e almeja, ou a vida que concedeu a benesse de a registrarmos em códigos, quase que como uma criptografia da alma? Quando a “senha” é correta o cofre é aberto, o acesso é permitido e se pode revelar o âmago da essência. Mas não é tão simples como pode parecer!

As rimas do viver são a eclosão dos intentos dos verbos que nos valemos para representar nossa alma na condução de nossos dias. Quem os decifra ou criptografa são aqueles a quem foi lhes dado o dom de converter a dádiva primeira em múltiplos dons, os quais lhes são espécie. Podemos passar, mas os códigos e os registros a que eles se dirigem perduram. Por isso, os poetas, escritores e literatos podem gozar da existência para além do título da imortalidade; eles podem “ressuscitar os vivos”, co-criar sonhos e estabelecer elos que fazem brotar jardins em meio aos desertos de nosso íntimo.

Muitos já enunciaram e presenciaram: “amor e dor”; “sorrir e partir”; “matar e perdoar”; “trair e repetir”; “cantar e calar”; “sofrer e subverter”; “odiar e salvar”… Exemplos de rimas que parecem tão óbvias na sua composição, mas que na presença imanente arcam com uma pluralidade de significâncias. O que mais se requer: sentido! Tem que fazer, ser, conotar e denotar sentido, pois ainda que não venha a carrear a confluência de sons, ao menos nos colime em suas dissonâncias a sentimentos harmônicos, compreensíveis, resolutos, estáveis…

Os substantivos também rimam, eles trazem à materialidade, fazem emergir as substâncias que provém do nosso ser. Nas ações do verbo viver, muitos outros também adjetivam, os quais não são da mesma conjugação, no entanto com ele comungam. Na escola da vida a rima está alem do juízo de valor que se prega. Seja ela pobre, rica, majestática, plebeia, satificante ou condenatória! Consagremos em versos e que se dê “Continuidade”:

“E se fez passo, pois cada ato deslindou o caminhar; e se fez laço, pois cada entrelaço formou vínculos; e se fez força, pois na potência do ser manifestou a pessoa; E se fez razão, pois na consciência atinou a percepção. E se fez sentido, pois na clarividência descobriu a alma; e se fez brilho, pois na pureza formou luz. E se fez luta, pois cada queda e erguer cultivou perseverança; e se fez Paz, pois na sutileza dos detalhes encontrou a fraternidade. E se fez alimento, pois no sustento formou vida; e se fez amor, pois só assim tudo mais fará sentido…”

*É advogado e doutor em Direito

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