
25/09/22 – 08:25
Por Fredson Navarro
Durante a segunda onda da Covid-19 em Sergipe, um estudo desenvolvido entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, revelou o alto índice de contaminação do vírus nas escolas da rede estadual. De acordo com o pesquisador e coordenador da Força-Tarefa Covid-19 da Universidade Federal de Sergipe (UFS), professor Lysandro Borges, o alto número de infecções assintomáticas ocorreu através do SARS-CoV-2 (Coronavírus 2). O estudo constatou que crianças e adolescentes têm menos probabilidade de apresentar sintomas com risco de morte após a infecção por síndrome respiratória aguda grave. Vale destacar que o período analisado foi antes do início da chegada da vacina contra o vírus.
Além do Brasil, muitos países suspenderam as aulas presenciais nas escolas como parte de intervenções para reduzir a transmissão da Covid-19 desde o início da pandemia. Em Sergipe, as aulas retornaram de forma gradual a partir de setembro de 2020.

Lysandro Borges recebeu o ‘Prêmio Olho Vivo’ como melhor pesquisador de 2021
“Foi comprovado que o fechamento das escolas foi altamente controverso na maioria dos países, pois crianças e adolescentes têm menos probabilidade de apresentar sintomas com risco de morte após a infecção por síndrome respiratória aguda grave pelo coronavírus-2 (SARS-CoV-2). O fechamento das escolas afetou adversamente as necessidades educacionais e a saúde mental das crianças. Há evidências crescentes de que essa abordagem resultará em muitos anos de vida acadêmica perdidos. Em contraste, alguns países, como a Suécia, mantiveram as escolas abertas durante a pandemia, enquanto outros fecharam apenas por curtos períodos, por exemplo, por dois meses na Alemanha”, listou Lysandro Borges.
Na pesquisa foi possível testar a comunidade escolar estadual em Sergipe que conta também com os profissionais da educação, área administrativa e limpeza.
“Fizemos testes em mais de dois mil servidores e profissionais que atuam no ambiente escolar, foi feito um critério de exclusão e reduziu-se esse número para se enquadrar na nossa pesquisa e conseguimos evidenciar, logo após a reabertura das escolas, quem eram os envolvidos com a contaminação da Covid-19 dentro do ambiente escolar”, comentou o professor.
O professor Lysandro Borges detalhou ainda que os profissionais vinculados à área administrativa, como professores e gestores, foram os que apresentaram o maior nível de contaminação em relação aos estudantes.
“O estudo mostrou a importância de que, na comunidade escolar, os adultos, são os que precisam se cuidar mais, se proteger muito mais do que os próprios estudantes, para não acabar levando o vírus para o ambiente escolar”, alertou.
No total, foram testados para a análise, 2.259 pessoas, sendo 1.139 estudantes e 1.120 trabalhadores do ambiente escolar em 28 instituições de ensino de 28 municípios de Sergipe.

Pesquisador compara Sergipe a outras regiões e faz análise
“Na média dos estados, o Brasil, que tem uma população de 35,2 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar, reabriu as escolas para aulas presenciais em outubro de 2020. Cada estado das cinco regiões brasileiras decidiu, independentemente, reabrir as escolas enquanto ainda havia uma alta transmissão de SARS-CoV-2 em todo o país. Este período de reabertura escolar ofereceu uma oportunidade para documentar o status da infecção em estudantes e funcionários de escolas, pois eles podem representar um grupo com alta prevalência de infecções assintomáticas que podem resultar em uma alta taxa de transmissão”, apontou.
Foi investigada a ocorrência de infecções assintomáticas por SARS-CoV-2 e soroprevalência no primeiro mês de reabertura escolar no Brasil. O estudo foi desenvolvido no período de 17 de novembro de 2020 a 21 de janeiro de 2021, quando o Brasil estava em transição da primeira para a segunda onda da Covid-19, mais agressiva neste país em comparação com outros.
“Esse período foi marcado por uma diversidade filogenética do SARS-CoV-2, com diversas variantes virais surgindo na América do Sul, levando ao predomínio das cepas Alfa e Gama. Neste momento, a linhagem Omicron não havia sido relatada”, recorda o pesquisador.
O estudante Mateus Lisboa, que cursava o 5º ano do ensino médio em 2020, em Itabaiana, disse que o período longe da escola foi muito prejudicial. “Além do medo do vírus, a gente ficou ainda mais tenso longe da escola, do contato com as pessoas e a angústia foi grande. Fui ao psicólogo e ele me disse que eu estava entrando em depressão. A situação não foi diferente entre os meus colegas de sala de aula. Mas aos poucos conseguimos retomar a rotina com atividades físicas e esse contato que é muito importante para o aprendizado. As aulas remotas não funcionaram”, garante.
A professora Ana Luzia Moura, que trabalha em Aracaju, recorda que o momento foi de muita tensão e as escolas não tiveram tempo para se adaptarem às aulas remotas.
“Não tinha estrutura física nem domínio da nossa parte para prender a atenção dos alunos. Foi tudo muito tempo. Ficar fora da sala de aula foi muito prejudicial para todos e tivemos que montar um novo cronograma que não conseguimos dar conta. Os equipamentos disponibilizados também não funcionaram na prática e foi muito tenso. O período passou mas ainda estamos sentindo esse tempo perdido. Os alunos passaram de ano mas sem absorver o conteúdo necessário e agora sentem dificuldades.
Reconhecimento internacional
A pesquisa foi publicada na revista científica internacional ‘Cell Press’ através do artigo ‘Cross-sectional analysis of students and school workers reveals a high number of asymptomatic SARS-CoV-2 infections during school reopening in Brazilian cities’, que quer dizer ‘Análise transversal de estudantes e funcionários de escolas revela alto número de infecções assintomáticas por SARS-CoV-2 durante reabertura escolar em cidades brasileiras’.
“A publicação na revista faz parte de um estudo feito por um grupo de pesquisadores da Força Tarefa no Combate a Covid-19. Aqui contei com a ajuda de outros profissionais da saúde da UFS, além da parceria com a Universidade de São Paulo. Foi uma felicidade muito grande ter a importância desta pesquisa reconhecida através da revista Cell, que é uma das melhores do mundo, referência nas informações relevantes na área científica”, vibra Lysandro.