Por Habacuque Villacorte – Da Equipe Cinform OnLine

Desta vez a equipe do CINFORM ON LINE trata de um problema “crônico” que é a falta de solução para o transporte público da Grande Aracaju. Entrevistamos o ex-vereador da capital, Adriano Oliveira, o “Adriano Taxista”, que sem mandato, voltou à sua atividade inicial, circulando a cidade dirigindo um táxi. Na oportunidade, Adriano conta detalhes dos bastidores da crise entre os rodoviários e o SETRANSP (Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Município de Aracaju), que culminou em sua prisão. Adriano disse que apoiou as manifestações dos trabalhadores como sempre fez, que não comanda a categoria, mas que os rodoviários não se sentem mais representados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Aracaju (Sintra). Confira a seguir, e na íntegra, esta entrevista exclusiva:

CINFORM ON LINE: Iniciando a entrevista, vamos à pergunta que não quer calar: após todos aqueles conflitos, enfim se chegou a uma solução no impasse entre o SETRANSP e os rodoviários do transporte coletivo?

ADRIANO TAXISTA: Não! A única coisa que existiu foi um acordo firmado entre os empresários do setor com o presidente do Sintra, que não agradou aos trabalhadores. A grande verdade é que venderam para a mídia como se o problema estivesse resolvido, e isso não ocorreu. O acordo firmado prejudica ainda mais os rodoviários, que viram seus tickets-alimentação caírem de R$ 577 para R$ 250. E o mais impressionante é que tudo isso foi definido sem que o Sintra conversasse com a categoria. Ou seja, a turma está trabalhando, mas ainda bastante insatisfeita.

 

 Mas e o que pode ser feito para reverter este cenário difícil? Novas manifestações podem ocorrer? O transporte coletivo pode parar novamente?

ADRIANO TAXISTA: Eu não sou líder de nada e nem estou autorizado para falar pelos trabalhadores, mas como fui rodoviário, como conheço os problemas do setor, como fui vereador de Aracaju com o voto e o apoio dessa categoria, eu não posso deixar de dizer que o problema ainda persiste. Não dá para enxergar um problema e fingir como se nada estivesse acontecendo. Muitos pais de famílias estão insatisfeitos, adoecendo. Não tenho como dizer se vai parar de novo ou não, mas posso dizer que esse acordo firmado pelo SETRANSP com o sindicato “pelego” será questionado na Justiça (INTERROMPIDO).

Então existe uma ação proposta já? Por quem?

ADRIANO TAXISTA: Tomei conhecimento essa semana e dou total apoio a um abaixo-assinado, com mais de 700 assinaturas, já chegando a mil, com motoristas e cobradores defendendo a nulidade desse acordo firmado entre os empresários e o sindicato. Os rodoviários não foram ouvidos, não existiu negociação com os trabalhadores. Uma falta de respeito com quem coloca o transporte de massa para funcionar! Passaram por cima e ponto final. Acredito que teremos ações judiciais sim questionando isso.

Mas além dos tickets-alimentação, o que mais prejudica os trabalhadores?

ADRIANO TAXISTA: Olha é um stress você dirigir, diariamente, em um trânsito confuso como o de Aracaju. E as empresas de ônibus, alegando dificuldades, retiraram os cobradores e acumularam as funções para os motoristas. Além de se atentar com o tráfego de veículos, há ainda a preocupação em receber o valor da passagem, em passar o troco para o usuário. Tudo errado! É mais desgaste e menos valorização! Pelo acordo firmado, a categoria ficaria sem reajustes até 2023, quando as empresas se comprometem em pagar o ticket de R$ 600. São ônibus velhos, falta segurança, os atrasos são constantes. É um descaso atrás do outro…

Mas qual é o segredo por trás deste sindicato tão questionado, por você, e agora pelos trabalhadores?

ADRIANO TAXISTA: Nós temos um entendimento que o sindicato deve ter sim uma boa relação com os empresários, porque é uma somação, que vise promover o a melhor prestação de serviço possível para a população. Agora o sindicato tem a obrigação de lutar e defender sua categoria, de ouvir, dialogar. Eu vinha falando há muito tempo isso. Agora, os rodoviários perderam a paciência de vez e promoveram duas paralisações no sistema. O presidente Miguel Belarmino faz parte do Sintra há 19 anos. Era vice-presidente e agora está no comando. Já são cinco ou seis eleições consecutivas, sem que os demais possam apresentar uma chapa para concorrer, já que o período de inscrição nunca tem ampla divulgação, e sempre o fazem em editais escondidos em pequenos espaços de jornais. Pode até representar no papel, mas na prática não lidera mais…

Agora como se deram aquelas manifestações? Você liderou os movimentos?

ADRIANO TAXISTA: Como te disse, os trabalhadores não foram ouvidos em momento algum e se rebelaram. Cansaram de ser enganados pelo Sintra. O sindicato marcou uma assembleia para as 22 horas no final de fevereiro e os trabalhadores ficaram desconfiados. Perceberam que era tudo jogo de cena, tanto que houve aquela mobilização na porta do sindicato à noite, quando centenas de trabalhadores ficaram esperando o presidente que, como já era de se esperar, não compareceu à Assembleia. Sinalizou que havia um acordo com os empresários e, no dia seguinte, a categoria cruzou os braços novamente. Os rodoviários souberam do acordo entre o Sintra e o Setransp pelo noticiário da televisão! A categoria me conhece e pediu minha opinião. Nunca orientei ou incentivei quebra-quebra ou que os pneus fossem esvaziados. Defendi sim uma manifestação pacífica em defesa dos direitos dos trabalhadores na Avenida Barão de Maruim.

 E como ocorreu aquela prisão? Você foi preso injustamente? Onde você estava? Como foi a abordagem policial?

ADRIANO TAXISTA: Os trabalhadores pediram meu apoio e, mesmo sem dinheiro, fui atrás de um carro de som. Todos iam se somar para pagar. Eles queriam fazer uma caminhada pela cidade para dizer à população os reais motivos da paralisação. Fizemos uma concentração no Terminal do Mercado, com quase 200 rodoviários lá. E, de repente, a polícia chegou, foi se aproximando, até que me deram voz de prisão! Eu questionei que crime eu tinha cometido, e o PM apenas alegou descumprimento do decreto governamental, que eu estava promovendo aglomerações. O interessante é que eu estava ali como os demais, mas só eu fui preso. Não houve resistência e me levaram para a delegacia. (INTERROMPIDO).

Mas o que disseram seus advogados? Como foi o tratamento dentro da delegacia? Por que a decisão de prender Adriano Taxista?

ADRIANO TAXISTA: Fui preso injustamente, por um crime que eu não cometi! Não estou aqui questionando a autoridade policial que estava ali apenas cumprindo ordens superiores. Não me deixaram ligar para um advogado, nem ligar para algum amigo que pudesse me ajudar. Cheguei lá por volta das 13 horas e só depois das 16 horas a delegada apareceu e, para minha surpresa, já não estava preso por “promover aglomerações”, mas por desobediência de decisão judicial e por atentado contra a ordem pública. Primeiro não havia nenhuma decisão me proibindo de participar dos movimentos, de apoiar os trabalhadores. Sempre dei apoio moral e não ataquei e nem agredi ninguém. Ainda me enquadraram em um crime sem direito à fiança! Só no dia seguinte, após a audiência de custódia, se estabeleceu uma fiança e eu fui liberado. Com todo respeito, minha prisão foi arbitrária e indevida. Não cometi crime nenhum!

Mas e agora? O que você acha que pode acontecer?

ADRIANO TAXISTA: Olha eu espero, de coração, que tudo se resolva. Não quero conflito com ninguém! Acho que o Ministério Público Estadual é parte importante neste processo, deve acompanhar a situação dos rodoviários e buscar uma solução. Estou, inclusive, me colocando à disposição para ajudar ao MPE. Acho que o órgão fiscalizador, na defesa do interesse coletivo, prejudicado com as paralisações, poderia defender um dia de gratuidade do transporte, para amenizar os prejuízos de quem teve que pagar mais caro, para ir trabalhar e para voltar para casa. É muito importante registrar que os grandes responsáveis por essas paralisações do transporte coletivo foram o Setransp e o Sintra.

Quem mais lhe ajudou? Você foi preso injustamente, mas alguém da classe política esteve ao seu lado?

ADRIANO TAXISTA: Recebi manifestações de solidariedade de muitas pessoas, dos trabalhadores, rodoviários, de políticos. Alguns amigos me ajudaram sim, como o deputado estadual Adaíton Martins (PSD), por exemplo. Agora, por uma questão de justiça, quem se somou à causa e contribuiu muito até a minha soltura foi o deputado Capitão Samuel (PSC). Mesmo sem ter nenhum compromisso político com ele, mas defendeu os trabalhadores e se posicionou contra a minha prisão. Agradeço a todos que me ajudaram a pagar a fiança. Só a minha família sabe pelo o que passei. Infelizmente os trabalhadores fizeram duas manifestações e a prefeitura de Aracaju nada fez. Deu o silêncio como resposta.

Concluindo a entrevista, você tem criticado também o transporte coletivo da Grande Aracaju, durante a pandemia. Qual a sua avaliação?

ADRIANO TAXISTA: A minha crítica é sempre no sentido de colaborar, de ajudar. Estamos vivendo sob decretos governamentais, que estão prejudicando e obrigado alguns setores da economia a fecharem suas portas, estão aumentando o desemprego. A gestão apenas fiscaliza e multa os trabalhadores. Sou defensor do isolamento social, do uso da máscara e álcool em gel, mas não vemos isso, diariamente, no transporte coletivo. Ou será que só os usuários e os rodoviários estão imunes ao vírus? São fotos e vídeos diários, denunciando aglomerações nos veículos e nos terminais de integração e ninguém faz nada! Ninguém foi penalizado? Será que vão esperar morrer um rodoviário para que as autoridades tomem providências? Enquanto isso, os taxistas se amontoam nos pontos, sem corridas, já sofrendo com tudo fechado. A PMA deveria buscar parcerias para diminuir o fluxo de passageiros.

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