Uma das comorbidades que mais apresentam risco de complicações após infecção pelo Sars Cov-2 é a insuficiência renal. Segundo a médica nefrologista Dra Andreia Nunes Kuwan, foi verificada uma probabilidade até 2,5 vezes maior dos pacientes renais crônicos morrerem por Covid-19. Isso provavelmente acontece pela presença de um sistema de defesa mais comprometido, o que torna mais difícil combater as infecções secundárias, um dos principais problemas da Covid-19. Na insuficiência renal aguda, o risco de óbito é cinco vezes maior.

A insuficiência renal crônica é uma doença caracterizada pela redução do funcionamento dos rins, em graus variados, e está presente em cerca de 10% da população mundial. Os principais fatores de risco da doença são idade avançada, história de doença renal na família, hipertensão arterial (pressão alta), diabetes, obesidade e infecção urinária de repetição. Estudos no Brasil e no mundo vem mostrando uma incidência de até 72% de lesão renal aguda em pacientes internados por Covid-19. Isso se deve a um quadro multifatorial, ligado a uma predisposição do paciente (pessoas com doença renal prévia, idade avançada e hipertensão), ação exacerbada do nosso sistema de defesa e gravidade da doença.

Jamile de Andrade

A professora Jamille de Andrade Aguiar Alves, de 37 anos, paciente renal crônica desde 2019, sentiu na pele a angústia de ter contraído a Covid-19. Mesmo procurando manter todos os cuidados, ela foi infectada duas vezes. Na primeira, em 2020, ela chegou a dar entrada na urgência de um hospital de Aracaju quatro vezes, e na última vez foi encaminhada para um internamento com um quadro de derrame pleural e pneumonia. Recebeu alta e após uma semana em casa precisou ser internada novamente, ficando mais 11 dias no hospital. A segunda infecção aconteceu no final de abril deste ano, mas os sintomas foram mais leves.

“Na primeira infecção eu passei dias muito difíceis, de muitas dores. Para o paciente renal em hemodiálise é muito difícil esse momento de pandemia, pois não podemos abandonar o tratamento e precisamos nos deslocar para a clínica de hemodiálise. Meus dias pós-covid foram difíceis, pois o vírus nos deixa muito debilitados. Apesar de não ter sido intubada, sentia muita fraqueza muscular, cansaço, dores nas articulações, dificuldades para dormir. Essas queixas duraram quase três meses”, disse Jamile que atualmente realiza hemodiálise três vezes por semana, quatro horas por dia.

Renais crônicos tem uma probabilidade 2,5 vezes maior de morrerem por Covid-19

“Conviver com qualquer doença crônica é um grande desafio. Em especial, quando estamos no meio de uma pandemia e quando sabemos que fazemos parte de um grupo vulnerável, com baixa imunidade. É necessário resiliência, persistência e muita fé em Deus para não desanimar.  O equilíbrio emocional nos ajuda a não desistir de viver e continuar lutando por uma qualidade de vida melhor”, conclui Jamille de Andrade, ao revelar que enfrenta um drama pessoal. Seu esposo contraiu a forma mais agressiva da doença e está intubado há 58 dias.

Superação

No dia 18 de junho de 2020, o aposentado Antônio Olímpio dos Santos Filho, de 58 anos, estava em casa quando sentiu os primeiros sintomas da Covid-19, uma febre leve, falta de apetite e um pouco de falta de ar, daquelas que vai e volta. Olímpio permaneceu em casa até o dia 23 de junho, quando deu entrada em um hospital da capital. Ele ficou internado 17 dias, dos quais 11 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “A equipe médica tentou me intubar, mas eu tinha combinado com a minha família que não aceitasse jamais. Após deixar a UTI, eu passei mais uns dias na enfermaria e graças a Deus consegui voltar para o meu lar”, comentou.

Antônio Olímpio

Olímpio é um paciente transplantado. A fragilidade que os pacientes renais se encontram os colocam como um grupo de alto risco para a Covid-19. “A convivência com a doença, seja ela qual for, é algo bastante difícil, imagine com a doença renal, que é uma doença que tira toda sua autonomia, dependente de uma máquina pra sobreviver. Você não pode viajar mais do que um dia, não pode tomar líquido mais que 500ml por dia, as viagens de Propriá, onde resido, para Aracaju fazer o tratamento três vezes por semana, acordando cinco da manhã e só retornando para casa por volta de 15h, é um desgaste físico muito grande e eu tinha oscilação de pressão, muitas vezes desmaiava”, disse.

Convivendo com a doença

Dra Andreia lembra que a convivência com a doença depende muito da força de vontade do paciente. Segundo o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2020, 65% das pessoas em diálise no Brasil tiveram como causa da doença hipertensão e/ou diabetes não controladas. O tratamento depende do estágio da doença, e vai desde mudança no estilo de vida (parar de fumar, controle do peso, prática de atividades físicas, dieta) e medicamentos até o que chamamos de “terapia de substituição renal”, que são a diálise peritoneal, hemodiálise e transplante renal.

Dra Andreia Nunes Kuwan

“É importante ter acesso à rede básica de saúde, e da aderência ao tratamento destes problemas tão comuns. Diz-se na nefrologia que existem oito regras de ouro na prevenção da doença renal: faça exercícios físicos regulares; controle diabetes e pressão artéria; beba água ao longo do dia; não fume; não tome remédios sem prescrição médica; tenha uma alimentação saudável e o peso sob controle; fique atento se você faz parte dos grupos de risco; por fim consulte seu médico e faça exames preventivos (exame de urina e de creatinina)”, orientou.

Um dos problemas da doença renal é que ele só costuma dar sintomas nos casos mais avançados. Considerando que a principal função dos rins é filtrar o excesso de água e sujeira do sangue, os sintomas são decorrentes do acúmulo destes no corpo: inchaço (principalmente nas pernas, mas pode ser no corpo todo e ao redor dos olhos), enjoo, vômitos, mal estar, indisposição, falta de apetite e redução na quantidade de urina. Alguns tipos de doença renal podem também dar espuma na urina. Exatamente pela ausência de sintomas iniciais, a realização de consultas médicas de rotina são tão importantes.

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