Obrigados a bater metas e a entregar todo o dinheiro para os bispos, dezenas de pastores, em todo o país,  sobrevivem em condições precárias e cumprindo exaustivas cargas de trabalho

“Foram 11 anos de trabalho como pastor na Igreja Mundial do Poder de Deus. Eu saí com uma mão na frente e outra atrás. Minha mulher ficou depressiva. Me colocaram (quando eu estava na Igreja e era pastor) em uma casa sem geladeira, sem armário, sem guarda-roupas. A gente passava cinco dias sem água. O vaso sanitário estava quebrado. Eu ficava na igreja das 7h às 21h, almoçava dentro da igreja”.

“Éramos como máquinas de ganhar dinheiro. Eu trabalhei em Maceió, em Manaus e aqui em Sergipe. Em Manaus eu peguei uma igreja com faturamento de R$ 8 mil e fechei (saí de lá) deixando um faturamento de R$ 16 mil. Quanto mais a gente bota dinheiro mais ele (o bispo, arcebispo de Maceió à época) quer”. 

“Muita ‘lei’ vem de lá de São Paulo. Dele (Bispo Valdemiro Santiago). Até porque para Valdomiro a palavra de um bispo é uma verdade inquestionável. E mesmo que o pastor esteja falando a verdade, para Valdomiro não vale. Ele estava chamando os pastores de ladrões. Mandou cada pastor tirar o extrato da conta e levar na mão do Bispo, para o Bispo ver (Em cada estado há um religioso responsável e que é intitulado pela IMPD de Bispo)”.

“Se a pessoa (pastor) não entregar o extrato eles (a sede Central da IMPD) mandam o pastor para a sede para fazer serviços gerais. Eu saí da IMPD faz uns oito meses.

Saí e coloquei na Justiça. Já tive a primeira audiência e agora estou esperando a segunda. Mas é difícil porque para a justiça nosso trabalho é voluntariado. Mas como se a Igreja não nos vê como irmãos? Minha sogra adoeceu e minha esposa não pode viajar para São Paulo para cuidar da própria mãe porque a igreja não permitiu. Nunca tínhamos folgas. Era trabalho escravo e muito sofrimento”.

“Aqui em Sergipe eu passei por vários locais e cidades: sede da IMPD na avenida Hermes Fontes, Arauá, Estância, Moita Bonita, Pirambu, Itabaiana, Itabaianinha, e outras. Porque eles dizem que os pastores têm que crescer senão não podem ficar naquela igreja, tem que mudar. E crescer significa conseguir ofertas altas dos fiéis: 50, 100, 200, 300 reais”. 

O depoimento acima é do pastor Osmani Franklin Mangueira da Silva, de 46 anos. Hoje, decepcionado e com o lar em desordem, Osmani espera uma decisão judicial favorável para recomeçar a vida. “Com 46 anos eu não tenho uma Carteira assinada, não tenho trabalho e estou separado de minha esposa. Mas ainda não perdi a fé”.

Fé. Sentimento inexplicável, forte e reconfortante. É nele que quem crê em algo Divino tira forças para enfrentar barreiras por vezes instransponíveis. E talvez também este seja um dos melhores e maiores argumentos na hora de angariar jovens para o seguimento religioso. 

ABORDADO DENTRO DE LOJA

Como ocorreu com o pastor Isaac aos 18 anos. Isaac foi abordado dentro de uma loja com a garantia de que iria ter um trabalho de carteira assinada e ganhando um valor acima da média paga para atendentes do comércio em geral.

Jovem, com possibilidades de ter um salário melhor, Isaac acreditou que a IMPD iria realmente assinar a Carteira dele e ele iria trabalhar somente no escritório da igreja. Mas não foi isso que aconteceu. Isaac nunca teve a carteira assinada e foi ser pastor na igreja.

TRABALHO SEM DIREITO E COM HUMILHAÇÕES

A experiência vivida por ele durante os 10 anos em que trabalhou nas unidades da Igreja Mundial do Poder de Deus, e revelada ao CINFORM, com exclusividade, é o retrato do funcionamento de qualquer empresa que vise lucros, só que com duas ressalvras escabrosas – primeiro, a tão propalada fé e zelo para com os fiéis não está nos itens prioritários ensinados aos pastores; segundo, dezenas (centenas até) destes pastores, nas mais de 6 mil unidades da IMPD podem estar entregues à própria sorte, ao abandono, recebendo míseros R$ 1800 brutos, com descontos, sem carteira assinada, sem direito a folga, trabalhando dentro das igrejas de 6h, 7h da manhã, até a noite, sem dinheiro para pagar aluguel, dormindo no chão, em casas e/ou cômodos sem mobília.

“Os pastores têm que bater metas. E não há horários fixos a cumprir não. A ordem da igreja é clara: ‘traga todo o dinheiro que arrecadou na semana. Todo o valor da semana precisa ser depositado até meio-dia’. Acima de R$ 15 mil o pastor fica na sede. Caso contrário há mudanças”.

CRIANÇA FORA DA ESCOLA

“Foram muitos abusos e humilhações que eu passei na Mundial. Saí tem quase um ano. Fiquei 10 anos trabalhando lá e minha filhinha nunca tinha tido a oportunidade de estudar, porque eles mudam os pastores o tempo todo”. Ao citar as unidades pelas quais passou, o hoje ex-pastor Isaac revela números da arrecadação mensal. 

QUANTO VALE A FÉ

Eis alguns deles: Glória, R$ 16 mil; Propriá, R$ 15 mil; Itabaianinha, R$ 22 mil; Cristinápolis, R$ 16 mil; Jardim Centenário, R$ 9 mil; Eduardo Gomes, R$ 10 mil; Itabaiana, R$ 60 mil, Marcos Freire, R$ 40 mil; Tobias Barreto, R$ 35 mil; Umbaúba, R$ 25 mil, Estância, R$ 30 mil; Lagarto, R$ 22 mil; Santos Dumond, R$ 33 mil; Simão Dias, R$ 20 mil; Canindé, R$ 16 mil, sede estadual, R$ 140 mil. 

“Na época em que eu saí da Igreja, uns outros 30 pastores saíram também. Ali há pastores que dormem no chão e não têm para onde ir. Muitos começaram jovens e agora estão velhos, sem garantias, sem carteira assinada, e com metas a bater. Porque pastor que não bate meta fica de castigo”, relata o ex-pastor Isaac.

E continua. “Quando comecei as denúncias nas redes sociais, o bispo daqui de Aracaju inventou (sugestionou) que a gente tinha atirado no carro dele e que ele estaria com medo do atentado. Mas a verdade é que ele próprio mandou atirar no próprio carro para nos culpar. Aqui já tentei denunciar às TVs mas é difícil. Além do que este esquema (de lucro, de arredacação de dinheiro, de metas) da IMPD é seguido também nas outras pentecostais”.

E acrescenta. “Os bispos dizem assim: Quantas pessoas têm em sua igreja? Se forem 100 pessoas e a arredacação der, por exemplo, R$ 180, querem saber porque a arredacação é tão baixa. A linguagem ali é de VALORES. Mas deveria ser de amor, de pessoas buscando Jesus, de gente aceitando Deus”.

Para Isaac, uma das maneiras de solucionar a injustiças seria uma ação atuante do Ministério Público em conjunto com leis que obrigassem as igrejas a assinarem as carteiras dos pastores e/ou funcionários da fé (missionários) e também que fossem cobrados impostos das igrejas.

CADÊ A JUSTIÇA?

Hoje os dois casos acima explicitados estão na Justiça do Trabalho Para a advogada* do ex-pastor Isaac essa briga com a Igreja é uma briga de foice muito grande e não é uma questão fácil de ser solucionada. 

“Em relação ao trabalho por eles (os pastores) prestado, eu, como advogada, mesmo sabendo dos riscos das causas e sabendo que não se trata de um processo fácil, vejo possibilidades de sairmos vitoriosos porque já há jurisprusdências favoráveis. E eles realmente foram obrigados a fazer hora extra, ficaram sem férias, sem décimo terceiro, foram obrigados a assinar contracheques”. 

EM TODO O BRASIL HÁ ATROCIDADES

Um dos denunciantes ferrenhos das situações humilhantes de pastores na IMPD é o ex-pastor Paulo Ongilio, de Ribeirão Preto. Nas redes sociais de Paulo há diversos vídeos gravados por ele mostrando pastores que atuam em todo o país sendo despejados das igrejas, morando em cômodos insalubres, jogados em hospitais públicos sem assistência da própria igreja. 

Exemplos como o do falecido pastor Kevin, do Brás, em São Paulo, que teve morte cerebral, e na época estava vivendo clandestinamente, completamente abandonado pela igreja.

Ou de um outro pastor em Cuiabá, Mato Grosso, largado em um corredor de um hospital. A cada foto-vídeo-denúncia segue dezenas de comentários. E muitos destes comentários também são de ex-pastores da IMPD.

De tanto denunciar as práticas da IMPD, o Bispo Valdomiro Santiago está processando o ex-pastor Paulo Ongilio. Mas as evidências do descaso para com os trabalhadores da fé (os pastores) são muitas e claramente visíveis. 

Há ainda planilhas com valores de arredacação ds igrejas e também mensagens de grupos religiosos em que autoridades da igreja orientam pastores a fazerem os depósitos bancários e como estes depósitos devem ser feitos.

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