
Faltavam apenas 30 minutos para a enfermeira Dimitria Aragão Pereira encerrar o seu o plantão. Era sexta-feira, 28 de maio, no Hospital de Pequeno Porte (HPP) Nestor Piva, na Zona Norte de Aracaju. Foi exatamente na sala da estabilização Covid-19, onde ela atua, que sua colega técnica de enfermagem, Gabriella Sousa da Silva, viu uma chama na sala ao lado. Era o princípio do incêndio que marcaria a vida delas e de centenas de pacientes, familiares e muitos outros profissionais de saúde
“A equipe foi atrás do extintor e, quando voltou, o fogo já tinha tomado uma proporção enorme, daí toda equipe começou a retirada dos pacientes dos setores. Foi uma cena nunca antes vista por mim, parecia um filme de terror, muita gente gritando, chorando, pacientes com muita fuligem, ficamos bastante assustadas com toda a situação. Teve paciente intubado tendo parada cardiorespiratória fora do hospital, mas toda a equipe estava unida e procurando dar o seu melhor”, explicou Dimitria.
Dimitria: “Logo após atender os pacientes precisei de oxigênio”
A técnica de enfermagem Gabriella Sousa da Silva, uma das primeiras a perceberem o início do incêndio, relata que foi tudo muito rápido, com a fumaça preta tomando conta da unidade em poucos minutos. “Foi uma cena de terror, só pensávamos nos pacientes, vidas que estavam ali, que a maioria não tinha como se locomover, dependendo de ventiladores para sobreviver. Pedimos ajuda aos outros funcionários do hospital e, diante disso, também começamos a retirar os pacientes dos setores o mais depressa possível”, disse.
Gabriela foi uma das primeiras a perceberem o fogo
Segundo ela, tinham pacientes conscientes e orientados, que ficaram bastante assustados. “Graças a Deus nós conseguimos retirar todos e dar o suporte merecido. Sinto orgulho dos colegas profissionais que tenho da equipe do Nestor Piva, pois não mediram esforços para se somar, mostrando que a garra e a coragem tomaram conta mais que o medo”, relata Gabriela, ao informar que depois que todos os pacientes foram retirados da parte interna do hospital, ela passou mal, desmaiou, e precisou de oxigênio, sendo levada pela equipe do Samu para outro hospital.
A coordenadora da Ala Covid-19, Laís Lima da Silva, não tinha chegado na unidade quando o fogo começou, por volta das 6h40. Ao se deparar com a cena, ela presenciou os colegas dando assistência aos pacientes dentro das possibilidades que tinham naquele momento, outros buscando recursos e colocando materiais e mobílias do hospital para o lado de fora. “O cenário era de guerra com todos unidos com um só propósito: salvar vidas. Foram médicos, técnicos, enfermeiros, psicoterapeutas, auxiliares de serviços gerais, vigilantes e pacientes estáveis, todos ajudando na retirada dos mais graves”, comentou.
Laís: “Todos unidos com um só propósito: salvar vidas”
O que se viu naquela sexta-feira foram atos de bravura, dignos de verdadeiros heróis e heroínas. Homens e mulheres que demonstraram não apenas coragem e profissionalismo, mas amor ao próximo. Guerreiras e guerreiros que lutaram bravamente, colocaram suas vidas em risco, e fizeram valer o juramento da sua atividade profissional, quando colocam a vida e a segurança dos seus pacientes em primeiro lugar. Infelizmente, apesar de todos os esforços, quatro pessoas acabaram morrendo vítimas do incêndio.
União
O médico Eduardo Gomes Pinto, que é proprietário do Centro Médico do Trabalhador, entidade que administra o Hospital Nestor Piva, ressaltou a união e o empenho de todos os órgãos envolvidos no trabalho de evacuação dos pacientes e também a eficiência das equipes de saúde que agiram com rapidez, o que contribuiu para evitar que a tragédia fosse ainda maior. “Foi necessário retirar todos o mais rápido possível porque a fuligem e a fumaça se espalharam rapidamente por todo o do hospital”, disse.
Segundo ele, assim que o incêndio foi detectado, as equipes acionaram imediatamente o Corpo de Bombeiros e a gestão da unidade. “O trabalho dos bombeiros, médicos, enfermeiros, técnicos, vigilantes, as equipes da limpeza, todo mundo atuando na evacuação, retirando todos os pacientes, mostrou o compromisso de salvar vidas. Em menos de 20 minutos todos já estavam do lado de fora do hospital”, frisou.