
Projetos desenvolvidos por meio do Centelha inovam com métodos de despoluição de águas, plástico biodegradável e utilização de microalgas para absorção de gás carbônico proveniente de processos industriais
Quando foi lançado, em junho de 2019, o foco central do Programa Centelha era estimular a cultura empreendedora e a criação de projetos inovadores, por meio de temáticas diversas. A iniciativa, operacionalizada pelo Governo do Estado de Sergipe, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa e a Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec), atraiu empreendedores de diversas áreas, e hoje já é possível colher os resultados de alguns dos projetos que se materializaram por meio do Programa.
A preservação do meio ambiente foi uma das temáticas que atraiu bastante ideias e algumas delas, após aprovadas e desenvolvidas, trazem boas perspectivas para a área. Entre os projetos desenvolvidos destaca-se o Aqualuffa, que aborda a despoluição de águas como tentativa de reduzir o impacto ambiental gerado por águas oleosas oriundas de esgoto doméstico, postos de combustível, lava-jatos e derramamento de petróleos leves e derivados.
O método utilizado absorve o óleo contaminante e promove a sua fotodegradação, por meio de um material de baixo custo e sem uso de agentes químicos adicionais, além de ser ambientalmente correto. “Outro benefício deste projeto é que promovemos a formação de recursos humanos especializados no Nordeste e, em especial, em Sergipe”, explica o responsável, Denisson Santos.
A criação de um plástico biodegradável foi o foco do projeto da pesquisadora Eduarda Bezerra, que desenvolve um produto chamado Polihidroxibutirato (PHB), um plástico gerado por microorganismos encontrados em vários substratos de carbono e que tem biodegradabilidade de poucos dias. Através desta iniciativa, as empresas terão acesso a processos mais econômicos, pois o PHB é de baixo custo e ainda é um resíduo que não agride o meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade do planeta.
“O plástico produzido a partir do PHB se transforma em produtos que se assemelham aos que são fabricados em plásticos de origem petroquímica, podendo ser utilizado na composição de vários objetos, entre eles, embalagens de comida, produtos estéticos e outros materiais. Também serve para confecção de fibras, redes de pesca e utensílios descartáveis, como copos, pratos, sacolas, entre outros”, completa Eduarda Bezerra.
Segundo o diretor presidente da Fapitec, Ronaldo Guimarães, os projetos desenvolvidos no Centelha seguem dando resultados muito positivos em Sergipe. “O Centelha, sem dúvidas, foi um edital inovador e que despertou nos sergipanos ideias muito interessantes em todas as áreas em que tivemos aprovados. As propostas que abordam o meio ambiente, em especial, trouxeram ideias muito importantes para a área”, pontua.
Tratamento de poluentes
Outra iniciativa com suporte do Centelha na temática ambiental utiliza microalgas para absorver da atmosfera o gás carbônico (CO2) proveniente de processos industriais. “No caso de alguma indústria que produz CO2, podemos canalizar uma tubulação para onde as microalgas estão crescendo, de modo que o gás carbônico não seja liberado na atmosfera, causando danos ambientais. É o que chamamos de sequestro de CO2”, afirma Rogério Luz Pagano, doutor em Engenharia Química e professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Sergipe (DEQ/UFS), que integra a equipe do projeto. Ele completa que o Programa Centelha serviu como um catalisador para criar a empresa.
As microalgas também estão presentes em outro projeto apoiado pelo Centelha, que trata efluentes de atividades industriais e humanas. Por meio da microalga Chlorella vulgaris, uma equipe de pesquisadores da UFS desenvolveu um processo totalmente limpo para tratar os esgotos sanitários, o chorume em aterros sanitários e os efluentes de queijarias e matadouros, os quais, por lei, devem baixar a quantidade de carga orgânica antes de ser despejados nos mananciais. O tratamento já foi aplicado no esgoto sanitário da UFS, obtendo grandes resultados.
O resultado do processo gera biomassa, que pode ser utilizada para diversos fins. “Apesar de com as microalgas termos o aumento da quantidade de biomassa, essa biomassa é totalmente rentável e pode ser utilizada tanto na produção de ração para animais, quanto na produção de energia”, explica a engenheira Sheila Silva, responsável pelo projeto.