A série ‘Quarentena Musical’ do Olho Vivo segue nesta semana com uma entrevista especial com Fernando Petrônio, intérprete do artista performático Audry da Pedra Azul. Ele recorda o início da carreira, dificuldades e comemora o público fiel que conquistou nas mais de três décadas de carreira.

Confira a entrevista na íntegra
OV- Quando você percebeu quem tem esse dom artístico?
FP-
Quando criança ficava encantado com a chegada do circo Mambembe na minha cidade Nossa Senhora de Lourdes. Naquele tempo, anos 70, os palhaços do circo faziam propaganda das atrações pelas ruas da cidade. Os palhaços reuniam a meninada e nos marcavam com uma tinta de carvão no pulso. A gente acompanhava os palhaços que chamavam o público gritando: HOJE TEM ESPETÁCULO? a criançada respondia: TEM SIM SENHOR: o palhaço: AS 8 HORAS DA NOITE? criançada: TEM SIM SENHOR: palhaços: E ARROCHA MENINADA: a gente gritava bem alto para os moradores ouvirem. Na hora do espetáculo apresentávamos a marca do carvão no pulso e entravamos de graça. Era o nosso passaporte. No circo me encantavam o palhaço, a rumbeira, o mágico e toda magia da trupe no picadeiro. Também gostava muito de ver na minha cidade os grupos folclóricos. As festas tradicionais me transportavam para um novo mundo, o mundo da arte naquela cidade

-Como começou a sua carreira?
Ainda em Nossa Senhora de Lourdes participei de festinhas artísticas na escola e um certo dia resolvi escrever e dirigir uma peça de teatro chamada ‘JOANA TEMPESTADE’. A história de uma menina rebelde que lutou e conseguiu a liberdade fora da sua cidade natal. A peça foi um sucesso, viajamos para várias cidades vizinhas. Na cidade de Propriá onde estudei também participei da peça de teatro João e Maria. E nos clubes da cidade disputava concursos de dança.

-Como foi batizado ‘Audry da Pedra Azul’?
Anos depois vim morar em Aracaju. Fiz teatro e dança em alguns grupos da cidade. Fui integrante do grupo experimental de danca da UFS. Em Aracaju ainda participei da trupe do CIRCO MÁGICO FUCHU. No elenco imitava Ney Matogrosso. Paralelo ao circo, fazia teatro e dança e seguia com meus estudos. Naquele tempo 80/81 o saudoso jornalista JOÃO DE BARROS, me convidou para fazer parte da ‘NOITE DO ANJO AZUL’, um show musical que acontecia todas as quintas-feiras numa boate no Bairro Atalaia. Até então não tinha nome artístico, era chamado o imitador de Ney Matogrosso. Pedi a João de Barros (Barrinhos) que me desse um nome artístico, ele falou: AUDRY DA PEDRA AZUL, a princípio achei o nome grande de feio, mas aos poucos fui me acostumando, hoje adoro. Audry da Pedra Azul segundo Barrinhos era em homenagem a um ator transformista baiano que fez sucesso em Salvador nos anos 50.

-Já sentiu preconceito em algum momento da carreira?
No início de minha carreira em todos os momentos sofri preconceito. Ao ponto de ser detido pela polícia e ser proibido de me apresentar. A censura era cruel comigo. Eu era proibido de frequentar alguns lugares por ser diferente e produzir uma arte não aceita pela sociedade. HOMEM USAR BATON E SAIA? ISSO É COISA DE VIADO. ESSE CARA TEM QUE SER EXPULSO DAQUI! E fui, em muitos lugares não me permitiam chegar nem perto. Certa vez a Polícia Federal me expulsou do Teatro Atheneu porque eu estava usando um figurino considerado indecente por eles. Fui parar na delegacia para me explicar. O ruim que na época nós não tínhamos defesa. Eles eram o certo.

-Quando começou a sua admiração por Ney Matogrosso?
Minha admiração por Ney Marogrosso começou ainda em Nossa Senhora de Lourdes, quando em 1973/ 1974 foi lançado o primeiro álbum do grupo Secos e Molhados. Meu vizinho colocava o disco para tocar e me encantava aquela voz fina do Ney Matogrosso. Eu dançava já imitando o Ney. Logo o grupo apareceu na televisão no Casino do Chacrinha. Em preto e branco fiquei encantado com o figurino do grupo. Ney era minha inspiraçao, como de muitas crianças da época.

-Como são os seus encontros com o ídolo?
Já o entrevistei o Ney 4 vezes. Todos os encontros para mim foram maravilhosos. Sem falar nas vezes que falei com ele por telefone. Homem de poucas palavras, sério, sincero e muito educado. Somos amigos até hoje. Sempre que vem a Aracaju o entrevisto, ele me recebe muito bem, e adora Aracaju.

-Quando você percebeu que a sua carreira deu certo e decolou?
Eu nunca pensei no sucesso absoluto. Queria mostrar um trabalho que eu achava que ia agradar. Comecei sem pensar em galgar degrau da fama. Sempre respeitando meu público, de todas as idades. Graças a Deus todo show que faço é casa lotada. O público adora e isso me fortalece. Amo o que faço e quero continuar fazendo até ficar velhinho (risos).

-Qual foi seu show mais marcante?
Todos os shows que fiz foram de grande expressão e importância para mim. Mas teve um que o público e eu nos deparamos com muita energia e empatia. Foi o show se não me falha a memória ‘FLOR DA PELE’, no Teatro Atheneu. Quando eu entrei no palco em cima de um cavalo. Foi um choque, uma grande surpresa. É o show que todo mundo fala até hoje. Fui muito aplaudido e fiquei muito feliz com esse retorno do meu público.

-Como fazer para conciliar o jornalismo com a arte?
Jornalismo e arte parra mim caminham na mesma esfera. Quando iniciei no jornalismo fazia todo tipo de matéria, até policial. Com o passar do tempo me especializei em escritas culturais. Foi aí que a união dos textos culturais e da minha arte se afinaram. Sem falar nos meus amados colegas jornalistas que sempre me apoiaram e me apoiam ainda hoje na minha artes. Meu colegas e amigos sempre me divulgam meus trabalhos.

-Como você avalia esse momento para os artistas?
A arte é pouco valorizada no Brasil. Lutamos muito para conquistar pequenos espaços. Dos últimos anos para cá só vejo quedas nas produções. Fazer arte custa caro é nós não temos incentivo, infelizmente. Sabendo eles que uma nação sem cultura e arte é uma nação sem identidade.

-Quais são seus planos pós-pandemia?
Se já vínhamos sofrendo, a pandemia do novo coronavirus veio para devastar de vez nosso movimento artístico. Não quero ser pessimista mas vai demorar muitos e muitos anos para vivermos o glamour dos anos dourados. O que nos resta é nos reinventar, utilizar as novas tecnologias para mostrar nosso trabalho porque publico presente nas casas de espetáculos tá longe de acontecer. As redes sociais ajudam muito. Se o artista souber fazer uma boa Live que atraia seu público é maravilhoso. Eu tenho pouca intimidade com as mídias sociais mas quero me atualizar com certeza para chegar mais perto dos meus fãs que eu amo. Tenho um projeto musical pronto. Depois da pandemia não sei como ficará nossas exibições. Se não for no teatro farei algo pela internet. Só não vou desistir. Meu trabalho está acima de tudo e meu público espera algo novo e merece o melhor.

-Deixe uma mensagem para seus fãs…
O momento é de muita saudade. Não existe coisa melhor do que você estar ali frente a frente com seus fãs. É gratificante, alimenta nossa alma. Quero dizer aos meus fãs que estou aí na parada só esperando o momento para um grande lançamento musical. Meu público não merece esperar muito. Meus fãs são meu alimento, sem eles não seria Audry da Pedra Azul. “JUREI MENTIRAS E SIGO SOZINHO, ASSUMO OS PECADOS, OS VENTOS DO KORTE NÃO MOVEM MOINHOS” . (João Ricardo). Musica imortalizada por Ney Matogrosso e que está sempre presente no meu repertório. Para os meus fãs um beijo, um abraço e muito amor. Até breve.

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