Em alusão à Semana da Consciência Negra, o Centro de Excelência Nelson Mandela, localizado em Aracaju, realizou a culminância do projeto ‘Alma Africana’ nos dias 20 e 21 de novembro, com uma série de apresentações de teatro e dança do Grupo ParlaCênico. O espetáculo, dirigido pelo professor Evanílson de França e protagonizado por alunos do Nelson Mandela, teve como temática os ‘Sobreviventes de Palmares’ e aconteceu no Teatro Atheneu.
Para muitos integrantes do Grupo ParlaCênico, o nervosismo ficou estampado em suas faces. Com razão, visto que esta foi a primeira experiência de palco para a garotada. Para Cauã Levi Conceição dos Santos, aluno do Centro de Excelência Nelson Mandela e integrante do grupo de teatro, não foi diferente. “Na primeira cena eu fiquei muito nervoso, mas depois fui me acostumando com o público e consegui retomar a concentração. Agora estou mais tranquilo, pois tenho recebido elogios da peça. Acho que ela ajudou a conscientizar muita gente sobre as consequências nefastas que o racismo pode causar na vida das pessoas”, frisa.
Orgulhosa, a sua mãe, Maria Aparecida, descreve a sensação de ver o filho se apresentando pela primeira vez no teatro. “Foi uma sensação maravilhosa. Eu cheguei a chorar, porque é um momento único ver o meu filho se apresentando pela primeira vez num teatro, sobretudo, ao interpretar um tema tão importante. Ver como a nossa cultura, como o nosso povo foi e continua sendo perseguido e maltratado. E nesta semana em que se comemora a Consciência Negra, essa peça também simboliza a liberdade de expressão que tanto precisamos”, reforça.
Para a estudante Sthefany Hora, aluna da 2ª série do Ensino Médio, do Centro de Excelência Atheneu Sergipense, a apresentação foi incrível por tratar da história e contribuições do povo africano para o país. “Nesta apresentação, ficou claro que não se deve julgar outras pessoas pela cor da pele ou pelo seu modo de pensar. A maioria dos alunos cometem racismo achando que é de brincadeira, mas não existe ‘racismo leve’, nem ‘racismo pesado’. Racismo é racismo e ponto. Precisamos, com urgência, repensar nossa postura para agir de forma antirracista”, destaca.
A diretora do Nelson Mandela, Inácia Maria Rodrigues do Nascimento, lembra o quanto foi desafiador ter um grupo de teatro escolar. “Quando o professor Evanílson chegou em nossa escola, ele disse que tinha um projeto de teatro para os alunos e ouviu de mim: ‘vamos lá!’, porque, enquanto gestora, meu papel é garantir que os alunos do Nelson Mandela tenham acesso ao que há de melhor para a sua formação. Hoje, posso dizer que esse trabalho merece todo o nosso reconhecimento. O espetáculo foi maravilhoso. Ficamos muito emocionados, choramos muito, além de descobrirmos grandes talentos em nossa escola”, comenta.
O professor Evanílson de França não cansa de tecer elogios para a sua trupe. “Eles são extraordinários. Eles são capazes de mover o universo. Nos fazem rir e chorar, nos provocam, nos fazem repensar nossas atitudes, mudar nossas opiniões. Eles me comovem. Enquanto educador, eu acredito no poder transformador desses jovens”, diz o educador.
18 anos do projeto
O projeto foi criado em 2005, no Colégio Estadual Professor Benedito Oliveira, também na capital. Em 2022, o projeto foi implementado em outro colégio da rede pública estadual, o John Kennedy. Agora em 2023, foi remanejado para o Colégio Estadual Nelson Mandela, onde é coordenado pelo professor Evanílson de França, um dos criadores do projeto.
São desenvolvidas atividades que se prolongam pelo ano inteiro, visando celebrar o dia da consciência negra não apenas em 20 de novembro, mas em todo o ano. São ações como oficinas, rodas de conversa e também visitas às mais de trinta comunidades quilombolas de todo o estado, onde são realizadas rodas de conversa, entrevistas e registros fotográficos.
As turmas que realizam essas visitas participam de um intercâmbio cultural com outros alunos, a fim de partilhar as experiências da visita. A ação é mais uma iniciativa desenvolvida pelas escolas da rede pública estadual que constroem práticas relacionadas ao cumprimento da lei 10.639/2003, que trata da inclusão no currículo oficial da rede de ensino e da obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e fomentam a educação antirracista, por meio de rodas de conversa, vivências, apresentações teatrais e a integração entre alunos e a sociedade.
Fonte, Secom – Estado.