
Estar isolado(a) socialmente não implica em estar parado(a). Há um paradoxo muito grande nesta questão que nos convida a quebrar preconceitos e crenças enraizadas de que só existe uma única forma de se movimentar, que seria ganhar a rua, transitar fisicamente. Como iogue, uma das primeiras lições que aprendemos com as posturas é sobre respiração. Equilibrar-se em cada movimento implica em desenvolver uma respiração consciente, com estado de presença, do contrário, cairemos em desequilíbrio. Parece com a prática do verbo viver?
Inspirar e expirar é a base da nossa existência. Este movimento básico tem um poder inimaginável. E ninguém nos ensina a respirar. A gente respira conforme comandos do instinto. Quando nascemos choramos com a primeira inspiração, que lança ar para os nossos pulmões de ar. É um ‘bem-vindo(a) a este mundo!’, agora você não depende mais de líquido amniótico, mas sim, de oxigênio. Respira e não pira.
Exatamente como na escala evolutiva das espécies, saímos das águas aquecidas da mãe para pisar em terra firme e respirAR. Na nossa respiração, neste movimento divino que nos torna vivos, está o diagnóstico de nossas emoções. Um mestre iogue me disse certa vez: “só viemos aprender duas coisas na Terra, a amar e a respirar”.
E é incrível como estas duas ações, amar e respirar, estão plenamente conectadas. Já presenciou um surto de raiva? A respiração é ofegante, exala-se desespero, dependência, apegos e limites diversos que o ser humano se enquadra e sim, se coloca lá naquela prisão de conflitos. A frequência energética e cardiorespiratória fica completamente comprometida. Quando uma água está remexida não há clareza para se ver: nem a si e nem a ninguém. Apenas em um lago calmo, na serenidade, desenvolve-se capacidades mais altruístas. A respiração lenta e profunda, por cinco minutos, se possível de olhos fechados, traz um novo panorama.
Eu sei, os pensamentos estarão como uma rua lotada de carros buzinando e fazendo barulho. Testemunhe. Vá para a margem, se distancie. Permita-se ser observador e eduque a respiração. Pegue ela pela mão e a convide para dançar. Uma amiga me disse que não conseguia meditar, sentar e ficar em contemplação. Ora, vá para a ação, movimente-se. Surfar, fazer ioga, dançar, fazer amor, entre infinitas possibilidades, consiste em alterar o status quo da respiração viciada, curta, responsiva ou explosiva aos eventos. A meditação ativa é super recomendável. Drene o cérebro com adrenalina para você ver. Escute suas músicas preferidas e baile em casa consigo mesm(o)a. TranspirAR vai alterar o movimento da sua respiração e trazer muito bem-estar. Suba escadas, circule um bambolê, faça pó-de-chinelo, brinque com pet, filhos, etc.
Aliás, o bem-estar é uma ciência. E somos responsáveis demais por fazer intervenções na maneira como nos sentimos. Ou você vai depender que algo aconteça externamente para lhe deixar bem? Crie sua realidade, movimente-se, vá para a respiração consciente. Liste tudo que você gosta ou gostaria de fazer. Seja simples, não simplista. Recursos nem sempre são escassos. Pessoas nem sempre são inacessíveis. Sentimentos é uma seara complexa e individual. Se partilhado, recíproco, é sinfonia, poesia, mas não, dependente. “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Quero uma verdade inventada!”, decretava Lispector, cheia de clareza de viver a amada escritora, Clarice.
Eu nem sabia que seria capaz de mergulhar de 20 até 30m de profundidade, mas fui lá testar para sentir os limites do meu corpo e sensações das correntezas do desconhecido. RespirAR pelo cilindro e manter o controle do oxigênio nesta aventura era um desafio inimaginável até 2018. SuperAR faz parte da natureza humana. MeditAR não significa ser zen, não implica em religiosidade, mas em conhecer-se, cada dia mais. MeditAR não é apenas sentar em posição de lótus, emanar mantras, rezar preces repetidas e esperar a paz interior chegar. A meditação é um movimento contínuo de ser, não cessa. A criatura é meditante, não medita e depois sai por aí exalando ‘positividade’.
Cada fala proferida, pensamento emitido e emoção (contida ou exalada) será consciente. Por isso o povo do budismo fica calado (risos). Eu escrevo para dar conta da mente de papagaio falante. Nesta seara de exercícios de tornar a respiração consultiva, pergunte-se todo dia: “como me sinto hoje? Como estou respirando? Sinto fome, sede ou outra necessidade fisiológica? Há alguma necessidade emocional neste momento? O que quero e o que me faz feliz?”.
Isso sem se cobrar, apenas para ter um autodiagnóstico e poder elaborar suas intervenções de bem-estar. O que você faz para estar bem consigo(a) mesmo(a)? E com quem lhe rodeia? Eu aprendi a valorizar demais o movimento. Respeito tudo que chega e deixo livre para voar tudo que se esvai. Respeito as escolhas de felicidade alheias. Agredeço cada gesto de confiança e estima. Quando percebemos que não há perda, há movimento, a vida se torna presente divino. O agora e os próximos capítulos nos reservam grandes autodescobertas! E eu desejo me surpreender.
Nesta fase de isolamento social (mas não, digital) podemos nos movimentar e socializar. Temos acesso a um bem irrefutável e universal: respirAR. Muita gente está vindo a óbito, neste momento, por não processar o ar em si próprio(a). A falta de oxigenação um dos quadros mais severos da covid-19. Já vi milionários estarem escassos deste recurso gratuito. Já pensou que grande e honroso convite temos em aprender sobre a riqueza de respirAR?
Atualmente estou tendo aulas com o Dr. Daniel Goleman, considerado pai da inteligência emocional. É com uma colocação dele que finalizo esta crônica onde lhe convido a movimentAR e sair de um mindset fixo de qualquer crença que lhe limite. O ar é expansivo, é energia, é inevitável a quem vive e se expressa. Assim são os sentimentos e emoções – inevitáveis. O que lhe move?
“As pessoas com altos níveis de esperança têm certos traços comuns, entre eles o poder de se automotivar, e sentir-se com recursos suficientes para encontrar meios de atingir os seus objetivos, ter flexibilidade bastante para encontrar meios diferentes de chegar às metas. Otimismo e esperança — da mesma forma que o sentimento de impotência e desespero — podem ser aprendidos”, Prof. Dr. Daniel Goleman.